quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Vassalagem

"Eu te amo."
(................)
"Me passa a salada?"

AML

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Antes de amanhã

Finalizar
.
fechar um ciclo de ignorãnças
É tempo de alçar voo
se atirar
rabiscar novas perspectivas
olhar fora da tangente
transbordar
outras teias

Se livrar da velha roupa
virar o ano
nu
você está pronto?
pode se levantar e sair,
assim,
nu?
sem luz e sombra?
pode virar a página e deixa-la, ali,
no que passou?
virtude autêntica é aprender
a esquecer
velhos romances
crônicas mal acabadas
contos que já não contam mais
nada
.

Acrilic on canvas:

Escrever um livro em branco.

Procurar novo vocabulário.

Dar adeus às rimas
permitir que os versos sejam livres.
Não há metade perdida.

Dar outro adeus aos hábitos que
não  habitam mais
dia 31
mergulhemos
na ponta do pincel
noutra tela
sem ponto de fuga
sem pudor
Mergulhemos
antes que a maré abaixe
deixe a aguarrás apagar
e levar
as velhas cores.

AML



sábado, 1 de dezembro de 2012



Entre poéticas
(....................)
com outro mergulho no texto tímido
porque profundo porque tímido

além de gramática
sem gramas
de pura gramática
inibição
do amor retraduzido
superfície
onde se entende do amor





AML

domingo, 18 de novembro de 2012

?!...

Datas. Olho para dentro e não vejo um calendário. Há apenas um dia que marco numa folhinha até então sem rabiscos, sem dias destacados. Nesse dia eu me pari. Rasguei a placenta e saí para o mundo.  Não houve (re)produção. Eu nasci de mim - e doeu. Levei uma palmada para vir à vida. De novo. Senti o ar que eu respirava arrebentando as paredes dos meus pulmões. Eu gritei. Às 19h32 do dia nove de outubro de 2012. Levei 32 anos para fixar uma data. Sim, custou-me 32 anos para (re)nascer. Gestação perigosa, delicada para mãe e para o feto, parto complicado, de fórceps. Eu não queria sair do conforto uterino, mas saí. Não me valia de nada nenhum alimento já digerido por alguém que não fosse eu. Minha mãe morreu no parto. Ela compreendeu que eu precisava produzir (me), nutrir (me) de mim. Saí assim, nua, num dia nublado, nenhuma nuvem tampava meu sexo. Deus não gostou, mas me empurrou mundo afora, mesmo assim. Vi meu nome e meu retrato, mas não sabia quase nada além do que podia ver; era necessário não mais dizer quem sou, ser novidade. Estou nova. Ufa! Sou eu sendo outra, eu, cheia de possíveis eus. Preciso criar. Preciso (re)inventar. Sair do discurso, da gramática, do argumento, da lógica. Sair da conformidade a fins, mexer meu corpo. Rompi o cordão - perdi o verbo. Deixei a identidade pra depois. Há uma constelação de possíveis dentro de mim que palavras não conseguem ostentar digitais não podem abarcar eu explodo eu danço em silêncio um ritmo sem harmonia sem regras apenas sigo o que parece gritar para sair e transfigurar (me) em algo que posso expressar e sentir como fenômeno que transcende o meu olhar para dentro tim tim brindo a vida que corre e não se cansa não quer alcançar porque está onde deveria e se muda quando quer dentro e fora são lugares figurados estou do lado de fora quando tudo é interiormente mundano é preciso estar do lado de fora quando tudo é interiormente mundano é preciso estar do lado de fora quando tudo é interiormente é preciso estar do lado de fora quando tudo é preciso estar do lado de fora quando tudo é preciso estar do lado de fora quando é preciso estar do lado de fora é preciso estar do lado é preciso estar é

etc
etc
etc

Sem atestado de óbito
de óbvio

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Novembro

Ela quer mais que um sorriso de primavera,
além do suor da carne trêmula
pelo amor em dias quentes.

Ela quer ficar...
na sua pele
nas linhas da tua mão que
vão de encontro
sem premeditar
a ela
porque somente ela
junto de ti
direciona a vida para
ambos corações.

AML

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Eu só quero que você fique...

De mãos dadas,
desnudadas.
vestes encobrem o assoalho
amanhã não haverá maçã mordida
Hoje foi
um ano
uma história
60 segundos guardados.
Então,
quando o sol se põe
é o fim do dia
e o fim do amor.
Ninguém se demora
a desfrutar tal ambrosia
água que alimenta e revitaliza
para em seguida secar
sua fonte
em busca de um poço raso.

Mergulhar em poços rasos:
um salto em busca de...
nada
que se demore
e dure
e viva mais que um dia.

AML

domingo, 21 de outubro de 2012

Mais uma vez...



Eu abri a porta
para que ele entrasse e ficasse
aqui dentro;
mas não voltou.
Sem sinais
já são sinais
de um dia que poderia não ter
se acabado
em despedida.

É possível ter saudades
do que ainda não foi?
É possível que apenas
um dia
desperte tanta vontade
de outro
e mais outro dia?

É assim que começamos
e assim que terminamos
desejando amar
e amando.
mesmo não sendo amada
para novamente amar
e desejar...
que se aloje para não mais
recuar.

AML



AML

sábado, 20 de outubro de 2012

Quando é hora de voltar...

Estar ali,
beirando o precipício
simpatia antipatizante ou
antipatia simpatizante:
é assim que somos seduzidos
a saltar
ou se acovardar e ignorar
o trânsito.
Esse fluir (ca)osmótico
faz o novo penetrar... na vida
Concede licença poética
para o amor se aconchegar
nos braços de quem não quer voltar
ao que já foi
à felicidade de outrora que se desgastou
ou simplesmente acabou.
Quem não quer voltar
ao que passou
abre o mundo
para o que virá - uma surpresa.
Eis a alegria rondando a nossa porta
o amor abrindo a janela
removendo cada vestígio do vazio que ficou aqui
dentro.
Não voltamos ao que já foi
Voltamos apenas ao mesmo ponto de partida
Sim -
Palavra de ordem para quem o vazio não corrompe
não enrijece o coração;
apenas concede tempo
- e espaço
para uma nova vida fecundar
de novo.

AML


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

(re)encontro

Eu o vi passar,
num dia meio sem graça
quando não havia calor.
E eu não sorria primaveras
Noutro dia
ele voltou.
Meio sem graça, sorriu
Acenou um oi com a cabeça e passou
por mim.
E depois
quando dia era tarde
e depois noite
e depois dia - ficou aqui, pertinho...
Abraçou-me forte, assim, apertando
as minhas costas.
Passou a mão pelo meu rosto,
tirando o cabelo que insistia em ficar onde ele não pudesse
me dizer
que se perdia em meu olhos verdes...

AML

domingo, 23 de setembro de 2012

O meu vício é gostar do vulnerável: pele que arde o frescor de cada amor indefinido.

AML

(foto: xilogravura de Oswaldo Goeldi, "Abandono", 1937)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

(Des)pedida


(Cena do filme Lost in translation, de Sophia Copola, 2003)

Não hei de bajular
qualquer romance indeciso
que na corda bamba se
equilibra
e arrisca cair
no esquecimento.
Fui amante,
fui esposa,
fui amiga,
sem ser ninguém.
Sempre aqui e, ao mesmo tempo,
fora de qualquer lugar que (me) encontre
Longe de
poder mostrar (me)
por baixo da pele, desvelado do cansaço de estar e não estar
com você.
Sinto desperdiçar uma força intangível
para ressuscitar um sentimento afogado no próprio vômito.
Amor que não sobrevive à ação ácida da teimosia,
ruminadora de pudores (falsos) e temores vis.
Não.
Não irei mais pedir que fique até o fim do dia
 - O dia já passou sem você.
Salvemos as lembranças
guardarei tudo que poderia ser seu para outro (que)
sem medo de aterrizar em solo fértil
me chame para cultivar (mais)
amor.

Alexandra M. Lopes

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

E se o mundo fosse acabar... você.


Vejo tantos posts nas redes sociais ruminando essa preocupação tosca com o "fim do mundo" que hoje resolvi pensar um pouco sobre com o que na verdade o "mundo" conseguiu mesmo acabar. Comecemos pelo simples fato de colocar "mundo" como responsável pelos atos alheios, considerando-o como uma "entidade" gestora de nossos próprios enganos e mazelas. Entidade tão poderosa que é capaz até mesmo de marcar datas (sim, no plural: pois já perdi a conta do número de vezes que o mundo prometeu acabar) anunciando o seu fim. Preparem-se! Estejam atentos ao fim do mundo! Por que deveríamos?

Ao usar o fim do mundo como "desculpa", deixamos de prestar atenção na vida por recear a morte prevista no calendário. A finitude se tornou muito mais sintomática: mesmo com a extinção da vida individual o mundo permanecia o mesmo, e agora simplesmente "resolveu" acabar. E agora, José??

E agora vamos "acelerar". Correr contra a ampulheta. Sem rodeios, para fazer jus ao ritmo eleito: tudo deve ser muito rápido, de forma a virar a página antes mesmo de se deleitar com o desenvolvimento do romance. Não há tempo. Somos pressionados a seguir metodicamente um ritmo que gragrena as partes, deixando seus miasmas pelo caminho. Exigimos uma praticidade e imediatez que engole fases em busca de um resultado esperado. E,com isso, vamos perdendo a "malemolência" para lidar com aspectos não muito práticos e que exigem de nós tempo para amadurecer e frutificar, como os nossos relacionamentos, por exemplo. 

Muito prático e pouco frutífero: há um "manual básico" que nos instrui a marcar a nossa felicidade apenas a partir de um compromisso que é engatado com o outro. Uma série comum de acontecimentos implica, em suas entrelinhas, essa "felicidade a dois" como um fim, como se esta fosse a única forma de relacionamento capaz de gerar em mim a sensação de felicidade; como se eu mesma não fosse capaz - e responsável - pela MINHA felicidade. Essa coisa gostosa de conhecer alguém se tornou algo muito volátil: eu te conheço, nós saímos, tomamos alguns drinks para desinibir e falar mais de si mesmo, adicionamos um ao outro no FB e.... isso significa que temos a intenção de assumir um "compromisso sério"??? E onde ficou o jogo de conquista, a sedução, a sensação gostosa de não conseguir prever o que está acontecendo e simplesmente se deixar levar, se permitir sentir algo novo??? Por que não pode se tratar até mesmo do nascimento de uma tenra amizade?? Isso levanta inúmeras questões, das quais realço apenas as mais óbvias:

Por que tem que ser "preto no branco"?
Por que tenho a pseudo obrigatoriedade de ligar no dia seguinte? E na próxima semana?
Por que a partir de então devo partilhar de todos os meus momentos de distração ou diversão exclusivamente com esta pessoa?? E pior: a pessoa se sente ofendida e até mesmo traída - o que é um grande absurdo - se porventura opto por simplesmente sair só.
Por que devo inserir tão abruptamente uma pessoa em minha vida já com esta "pré intenção" embutida, sem exercemos, juntos, a tarefa de descobrir (se) e desejar a compania um do outro?

Permita-me esclarecer uma coisa: estar com alguém não é condição para a felicidade. E o idolatrado "compromisso" é consequência e não finalidade do envolver-se com o outro. Toda essa "pressa" nos impede de viver o que é mais prazeroso, descobrir que há alguém que acrescente  - veja bem: o verbo utilizado é ACRESCENTAR e não RESPONSABILIZAR - alegria, amor e felicidade; emoções ou sensações as quais eu já possuo ANTES de ter a presença do outro. Isso significa que a presença do outro não é garantia de nada, não atesta a felicidade de ninguém; ela resplandece na nossa capacidade de lidar com as circunstâncias sem se vitimar, sem eleger "o mundo" como um "terceiro incluído" culpado pela nossa própria falta de habilidade em se ocupar da própria vida. A insatisfação não vem de algo que alguém fez ou deixou de fazer por nós, mas do que cada um deixou de fazer por si. Contraditoriamente, é neste momento crucial que não devemos "esperar" e esperamos demais, sem esperar muito de nós mesmos...

Deveras, não há uma receita de bolo. E é uma ingenuidade das mais perversas acreditar nesta absurdidade toda que este "pacote de felicidade" promete. Não. O que devemos querer mesmo é tentar, prestar atenção no que nos faz MAIS feliz - ou em quem acrescenta essa delícia de sensação em nós. Não nos ocupemos com questões vãs; se entregue, se jogue, se aventure sem traçar fronteiras pré concebidas - não se acomode nas coisas permanentes, pois tudo é perecível. E não tema se amanhã for apenas a falha promessa de um outro dia...

AML.

sábado, 8 de setembro de 2012

Insone: para aqueles que dormem demais


(Referência ao filme Clockwork orange, de Stanley Kubric)

Ela apenas queria dormir por uma noite
amanhecer leve como o dia
desponta no horizonte.
Acordar outra
mesmo sendo o que é
só para enxergar -
mesmos com os olhos míopes -
este amor sublime que, teimoso como insiste em ser,
finge não ser amor.
E o silêncio, ah, o silêncio
não disfarça o desejo evidente tão bem quanto um ex-mágico...
Apenas aponta um querer que tateia no escuro
para no final encontrar, como uma pseudo surpresa
Esta mesma mulher
com os mesmos olhos de vidro
a mesma boca carnuda
a esperar por um beijo seu.
Desde o primeiro dia
até o último
sem a menor certeza ou qualquer convicção:
ela pousa em seus pensamentos relutantes
em seu corpo indeciso.
Ela te faz falta...
Mas, não.
Silêncio....
Para ela não acordar... de você.

AML

sábado, 25 de agosto de 2012

Querosene

(Claude Monet - Waterlily pond with the japanese bridge, 1899)

Meu corpo arde
meu sangue e
minha'lma queima
a cada dia longe daquela figura
especial,
tão perto e tão longe
dentro e fora
de mim.

Cada pedaço meu,
cada músculo lateja:
ao te ver
mergulho
numa saudade que tento transformar em versos
em pintura inacabada
sempre esperando uma nova tonalidade -
para não me devorar e não
me debruçar nessa mistura de alegria e tristeza
de estar e não estar fazendo
o que é certo (?).
Confundimos prudência com pudor?
Não sei.
Nunca sei muita coisa.

Esse querer ainda pungente
vai e volta sem permissão
sem nome
se endereçando para não receber -
correspondência.

E vira novos versos
queimados pela luz pálida
do meu jardim.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ao futuro de antes

É simples:
um dia você me liga,
me chama para tomar um drink
Eu aceito
te fito maliciosamente e até pego em sua mão
máscula
você cede aos meus caprichos
porque simplesmente adora quando deslizo meus dedos em sua nuca
mas não deixa que eu me aproxime demais
Meu perfume já colou em sua pele
mas -
Depois
ao primeiro sinal da alvorada
guarda tudo numa caixa vazia
recolhe os brincos que esqueci na escrivaninha
o lenço que usei para limpar meu batom - borrado
E assim, se esforça
para não me (re)conhecer mais
e não assumir que sou eu
quem atravessou o seu caminho
te virando pelo avesso.

Teimosos, sim
os corações que não são ordinários.





AML

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Não, o culpado não é o desejo
nem o outro ---------
desejo

AML

Por onde for


Não há o que esconder.
Tampouco há um lugar para onde fugir.
Sócorro para dentro,
nesta natureza descomunal que me absorve,
me digere e me devolve outra.
O silêncio explode
quer dividir e compartilhar quinquilharias amorosas
todas muito bem acolhidas pelo meu coração requintado
mas vagabundo.
Sim, eu sei o que você não quer
Pronuncio feito louca um ou dois versos confusos
Deixo o copo vazio entornar
Declaro sem o menor pudor tudo o que
não pude lhe dar - mas ainda não sei.
Tem algo aqui dentro que não sei.
E não saber, meu bem,
me excita
muito mais que a expectativa
de um eu te amo barato
que vem antes de uma carência mal resolvida
a ser preenchida com fagulhas apagadas.
Isso sim seria decepcionante.
Frustrante.
Não me interessa um amor depreciativo (de si).
Mesquinho e exigente.
Sentir incoerências é Incondicional.
Lembra?
Isso é o que importa.

AML

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tardes de inverno

Um dia a dois nesta
natureza paradoxal é bem assim:
uma garrafa de vinho pela metade,
o último cigarro queimando sozinho,
e
dois corpos gozando os mesmos medos que não (re)conhecem.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Seis minutos guardados.

(Salvador Dali. The bleeding roses, 1930)

Perto, bem perto,
estivera de descumprir o fim 
ao qual meu coração ingênuo costuma chegar.
Não conseguiu abrir a porta - 
possuía todas as chaves, mas resistiu.
Quase acreditei que havia me decifrado.
Mas algo o mobilizava a ser devorado ali, na porta,
sentindo o vento soprando o frio de um inverno dilacerante.
Embora nem fosse tão tarde...

Meu corpo 
apenas meu corpo
fora alvo de um desejo aquiescente,
não menos sublime, mas detido por assombros.
E, ao deitar-se sobre tal sensação fulgurante,
sentia gotejar a seiva de um amor mal interpretado,
por nada cobrar,
apenas querendo ter mais coragem para aparecer,
nu, entre linhas mal ditas e distorcidas por pura vaidade.

Ele não mais apareceu.
Perdeu a coragem de entrar e - 
rever a mulher que conhecera,
especial,
embora tenha a deixado partir...
E antes do enlace final,
do último beijo e sussurro incoerente ao pé do ouvido,
ela recitou:
guarde meus olhos para que me veja quando puder,
para lembrar quando quiser,
de um quase amor que tive por ti...

AML


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Um abraço a Vênus de Milo

(Vênus de Milo. Estátua grega provavelmente produzida no período helenístico, pertencente ao acervo do Museu do Louvre, em Paris)

Incondicional. É assim que todo amor pode ser livre.

Mas livre não é solto... Há laços que devem ser atados, porém, não aprisionam, não sustentam expectativas suntuosas. São simplesmente laços feito de mãos dadas, em que todo o mistério de emoções e sentimentos suscitados enrubescem e tira o fôlego: porque é imprevisível, não planejado, e esta aí, para ser vivido no corpo e na carne tantas vezes dilacerada e que outras mil se regenera para novamente ser devorada...

Laços estabelecem um ritmo, uma afinação dentro da dissonância que cada um é. Mas... acontece: surge alguém encantadoramente inseguro(a) que te eleva e te adora como Vênus de Milo, interessado(a) no lampejo do fogo que em ti vislumbra e ele(a) perdeu.

E -

ao perceber que é mortal, simplesmente te deixa no ar... E como uma forma etérea que não quis ser, você dá corpo a um sonho frustrado que não ostentou, do qual  ele(a) acorda, plácido(a), numa manhã qualquer... Livre de qualquer pedaço (de ti) que tenha ficado para trás...

AML

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Odisseia

(Herbert Draper - Ulisses and the sirens, 1909)

Penélope esperou por Ulisses
tecendo de dia e desfazendo todo o trabalho à noite.
Não tenho um herói por quem esperar
portanto,
teço retalhos.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

T(r)emas

Estou monotemática ultimamente. Embora eu tenha tantos pensamentos a serem revirados, refeitos, para se tornarem algo novo... Adoro mudar a vida de lugar, sempre privilegiando os melhores climas - o Bigode me ensinou o quanto o tempo é prestativo para a procriação do amor e da alegria - de vida. Mas sempre meus temas recaem no mesmo lugar, talvez por ser o lugar-mor de tudo. Confusão. São muitos sentimentos do mundo para tanta coisa que desalinho a todo momento, para realinhar de forma mais simples.

Sou complicada.

Adoro quando me falam: "Sua linda! Você não existe!" Não, eu existo. E por trás do "sua linda" há o caos, um turbilhão de coisas e mais coisas que preciso dar nome - mesmo achando que ter sentido não faz sentido. Caos este, por sua vez, que não disfarço, é só você olhar com atenção. Não sou exceção, é claro. A diferença é que eu não desafino, vou lá, desalinho para realinhar, sem saber se eu sei dizer o que quer dizer o que vou dizer - parafraseando Baleiro. Eu digo. E sempre causo terremoto, sou assim, meu coração explode a cada movimento, me sensibilizo com música, pinturas, poesias... Por que ali sempre tem algo tão significativo, tão intenso, tão... eu. E choro. E sorrio. Amo, amo muito... E transbordo alegria.

Você deve pensar que sou infeliz, mas sinto em desapontá-lo, leitor: sou feliz mesmo no meio de todo esse furacão. Vou para longe para ficar mais perto do mundo, que me suga, me tritura e me refaz a todo instante. Sim, sim, dói muito sentir tudo, querer falar de tudo e explicar tudo de forma mais simples, mas não dá para evitar essa dor; pois fujo, corro mesmo de qualquer forma de me auto assombrar. Está vendo? Sou complicada. É muita coisa para pouco amanhã...

AML

Os universais são singulares

O que é mais importante?
Estar com você.
Pode ser que dure
pode ser que acabe.
Talvez sejamos apenas amigos
 - que num lapso de lucidez enriqueceram a amizade com mais amor.
E por que pensar
medir
criar métodos?
Não há meios e fins.
Não é necessário ser lógico
pois não se trata de convencer ninguém
sobre verdades universais.

O universo está aqui, entre você e eu.

Obedeço, sim, escuto
a canção sedutora tocada pelo meu coração perdido
Não me amarro ao mastro
não temo me perder -
não temo me envolver.
O medo deixou de ser um pedaço de meu navio anterior
onde eu me segurava para não me afundar
em novas e venturosas águas.
Eu falo sim o que sinto
não irei refrear o que penso com falsos pudores
não deixarei ao relento a incondicionalidade.
A minha nudez com as palavras não deve te apavorar
 - apenas teci uma teia para amortecer qualquer queda.
Não se trata apenas de uma aventura -
se é o que pensas quando não lhe cobro nada.
Mas de aventurar-se na alegria vivida
em cada noite e verso.
Não há "e se" que me impeça de desejar
sua compania, por tudo o que for.
Não há nada demais esperar mais - de nós
Nem ficar com o que já existe.
Porém,
seja você
para minha alegria e loucura
ou seja alguém em quem eu encontre algo
que inspire você
Eu vou
mergulhar...

terça-feira, 31 de julho de 2012

Náufrago

Não, eu jamais ofertaria o que não possuo.
Não faço promessas, só propostas.
Não, não há a menor garantia
que o meu amor seja suficiente,
que consiga superar os desenganos de outrora
e preencher os seus dias com alegria. 
Não posso sequer garantir o que quero:
o devir é sorrateiro e tem o hábito mal educado
de nos fazer surpresas desagradáveis
- mas que provocam novas perspectivas já iminentes.

Porém,
entre tantos não poderes há um istmo:
e lá se encontra a sobriedade após severos anseios;
posso partilhar da turbulência oceânica que é a troca de afetos
e aquietar-me no benfazejo amor, inocente
de todas as nossas investidas equivocadas.
Neste pedacinho de terra onde o meu amor habita e
cria o próprio sol
e a vontade de iluminar o seu dia,
eu também tenho um lar onde você é bem vindo, com
toda sua bagagem.
Sim, meu amor é um náufrago
sem medo de se atirar de volta ao mar...
... e retornar, ofegante, à terra firme.

AML
O que posso fazer se não sou de outro modo
a não ser este: um abismo de sensibilidade
onde tudo me comove
 - profundamente.
Tudo me toca sem nenhuma leveza
sempre esperando de mim a recriação
dos meus sentidos
dos meus amores
da minha pele;
propondo-me a destruição de
regras obsoletas
da covardia
por já ter passado por amores delinquentes.
Meu coração sobressalta
ciente de não haver paz suficiente
ou durabilidade de estações.
Mas se envaidece
ao deixar para trás qualquer
resquício que ensurdece cada pulsar.
É tempo de (a)firmar-se na terra e
abandonar os devaneios oriundos do medo
que assombram a minha vontade
de amar.

domingo, 29 de julho de 2012

Sensação boa
essa de poder esperar algo novo
De perceber que há alguém que
te verá
como é.

É fantástico
se sentir assim, humana
pessoa em sua mais bela imperfeição
vacilante
gaguejante entre verbos e adjetivos
que se engasgam entre quereres e medo de querer.

Deixei o medo lá fora
quando fui levar todo lixo que havia me livrado
e deixado num depósito.
Não é necessário depósito para lixo orgânico
pois simplesmente retorna à terra
e renasce
como esquecimento.
Lembremo-nos disso.
Não há nada que não possa ser enterrado
dando espaço para recomeçar
re-conhecer
a si mesmo.
E
a ver (se)
pelos olhos de alguém que ama a terra
e o que és.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sendo.

(Fuck you - Marion Peck, 2008)

Não realizo a idealização onírica de ninguém - eu mudo as cores de lugar, mudo os traços quando pinto meu retrato. Creio que amar é mostrar-se(r) na imperfeição: sou um projeto inacabado, sou sendo, sou Mulher: digo gentilezas e indelicadezas ao tempo, ao homem, ao Nada.

AML

terça-feira, 26 de junho de 2012

Um jogo a dois

Deixemos de lado as convenções.
Joguemos os dados
Apostemos nossas regras súbitas porque elas podem mudar
Não há motivos para privilegiar compromissos
Há mais compromisso na honestidade em declamar o querer
o desejar (te)
e vivê-los sem ocupar-se do futuro.
Sem planos
Já é um plano.

Sermos chamados pelo próprio nome é suficiente
quando estar junto
é o que mais importa.
Para o diabo qualquer título transcendente
embriagado em ilusões rasteiras de happy end
quando os versos tecidos entre os corpos
são livres
amantes
que não agonizam o que sentem por simples medo
de não ser-fazer-se(r) felicidades habituais
de desajeitar os afetos já conquistados
de prometer futuro
 - que por si só já é uma promessa inspiradora,
mas incerta.

Por que prometer amanhã?
Por que planejar a próxima semana?
Um dia vem após o outro...
Não busquemos fins pelos meios que não tem fim algum
apenas tecem entraves
dúvidas
sismas
que só pretendem tornar o que sentimos algo moral.
Não. 
Deixemos de lado as convenções
e o cuidado para ter tanto cuidado
sem cuidar do que realmente importa.
Tão simples.
Tão instantâneo
que confunde.
E nos leva para longe...
quando queremos
apenas
estar aqui
no paraíso que já seguramos em nossas próprias
mãos dadas.



domingo, 24 de junho de 2012

Outro

Não me impressiono somente com suas qualidades.

Porque adoro quando fica zangado e gagueja as palavras;
quando franze a sobrancelha porque não sabe o que dizer ou o que fazer;
é lindo ver seu mal humor e rabugice, é engraçado
sua falta de paciência com perguntas idiotas sobre o tempo... coisa mais fora de hora não há.

Ficou louca quando você não atende o telefone
quando não responde a mensagem.
Mas amo esse seu jeito de fingir que não está nem aí,
quando na verdade está aí até mais do que esperava...
Adoro seu medo de ficar pertinho,
de me confundir toda com querer e não querer,
de perceber que tudo isso fugiu completamente dos seu planos.

Não vejo só o que me agrada.
Quero mais.

AML

terça-feira, 19 de junho de 2012

Quadro sem tela, quadro sem moldura

Diante de tantos sabores e dissabores, não é difícil se confundir: entre memória e esquecimento, evitar e desejar o inesperado, quando é que crio e quando estou apenas me adaptando ao mundo já inventado? Por mais que deseje estar na superfície da vida, em suas terras nem sempre tão áridas, me vejo, às vezes, atada ao ideal romântico imperativo e categórico, que nos leva a recusar qualquer outro tipo de experiência que esteja mais a fim ao devir que às medidas padronizadas da vida.

Sem dúvida, é confuso: saber o que deseja mas não permitir que a vontade se potencialize e crie a própria forma... Por que deve ser consciente? Por que tem que haver um nome? Por que temos que fixar tudo o que nos rodeia? É difícil perder o hábito de simplesmente se adaptar ao mundo; de se encaixar no que equivocadamente é encarado como algo pronto. É tão cômodo, tão fácil, tão... preguiçoso. É típico da preguiça se adaptar: pra quê lidar com imprevistos, novidades, surpresas? É mais conveniente (???) simplesmente permanecer onde estou, com meu nome, meu RG, minha profissão, meu signo e meu ascendente, meu endereço. Pronto. Não precisa mais nada de mim. Ou melhor: não é necessário que mais nada em mim mude. E quanto mais o tempo passa, mais pesada se torna essa exigência de se fixar num lugar, num amor, numa convicção, numa (dis)forma de viver... Acho estranho.

Mas não nos enganemos: o tempo não é o vilão da história. É nosso pensamento raquítico que nos impede de ultrapassar o temor em ser o artista do próprio mundo. Para lamentar o passado, ressentir os desenganos e planejar, projetar o futuro, não há preguiça - o que, para mim, é um paradoxo. Não vejo o idealizar como um melhor; tampouco serve como garantidor de alguma coisa; é tão instável quanto o próprio fluir do tempo que nos esforçamos tanto para disfarçar...

Sim, quero viver um amor, uma paixão sem limite gramatical - mas ainda me confundo entre os verbos que exigem complemento e os que desejam liberdade. Não é fácil ser cria-dor de si, inventor de uma tela em cores, sempre em branco: isso é o mesmo que admitir a incerteza, a impermanência, e a vulnerabilidade de tudo que achamos ser definitivo, quando viver é, na verdade, infinitivo. Me encontro entre a moldura e a tela que crio com tinta e aguarrás, entre a vontade de se firmar (é, de fato, vontade??) e o possível; a vontade de permanecer (é, de fato, vontade??) e a mudança. Viver, assim como o amor, é estar sempre indo embora... O ideal é sempre uma forma de fadiga... Afinal, o que pretendo melhorar com um nome? Um modelo? Um status? Por que tem que haver mais, um além, um plano para o futuro? O que é que falta, se o que quero já está aqui, nas minhas mãos, em meu coração, em todo meu corpo?

É muito mais dadivoso não pretender se adaptar, não fechar-se numa moldura que projeta a vida e o amor para fora. Porém, é mais difícil por não preservar nem garantir nada, não acomodar-se em fórmulas prontas. É necessário criar e conquistar a todo instante: trabalho extra que queremos evitar após de um (des)encontro bem sucedido. Precisamos permitir que nos abandonemos às coisas sem medo de perdê-las,  que nos desembaracemos "de si".

Deixemos que o receio seja suspenso para que toda força embriagante crie e invente, responda à provocação em vez de cerceá-la com "e se": é só no tempo que a vida e o amor tem espaço para ser... sublime.

AML

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Deixe ela entrar...

(Pablo Picasso - L'etreinte, 1903)

Sair do óbvio que ninguém pode ver.
Com(e)on sense 
Ou ninguém quer ver
porque assusta
porque é a hora errada
que desprograma
e recomeça - é outra.
Medo gostoso de não saber
identificar
dar nome
De não prometer
nada
Nem isso
nem aquilo.
Agora é transversal
Uma incógnita dizível
mas não pronunciável.

Fique.
Sinta.
O medo é recíproco - é um jogo, lembra?
Se perca no improvável.
Na pessoa inimaginável
que mexe e mexe mais
em suas entranhas
na carne
e no coração desiludido.
Tempo separa corpos
e nada mais...
Venha aqui
não há promessas
nem juras
somente "isso"
Inexplicável
intangível
que insiste em se instalar
dentro
no âmago dos corpos
nus
que se presentam
no inocente pensar que
não foi nada...
Que não é nada
além de corpos
nus
(...)

AML


domingo, 10 de junho de 2012

Crua

(Gustav Klimt - Adam and Eve, 1917-1918. Unfinished)

Trocar de pele
Meta-morfose
Ela quer
sei(s)
minutos únicos
ao seu lado.

Pra dizer
num quarto escuro
pra viver
na varanda
o que crês não querer, não esperar
Na melancolia
flores que desbotam no outono
Na desilusão
uma porta de ontem.
E acaba
quando você conhece
deseja
e pensa
"ela".
Só ela. 
Olhos de primavera.
que só olham pra ti.
Ela diz sim.
Ela quer sim.
Não precisa falar
só saber
dela
que só pensa em existir
pra ti.
Momentos únicos
pra repetir
uma alegrar (se)
de outrora.

Sem planejar
sem querer
súbito.
"Ela".
"Ele".
Inacabados.

AML.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O horror de Hamlet




Nem Ofélia.
Nem amor de Ofélia
Não morreria como Ofélia
a beleza está na vida não reativa
Hamlet apenas viu fantasmas
procurou fantasmas
criou tantos outros fantasmas
foi a própria memória da vingança
contra si
e não contra Cláudio
Ó, Hamlet
Entre ser e não ser
perdestes tanto tempo
tanto gozo
tanto mar
quando deveria apenas olhar
e mergulhar
para Ofélia...
em Ofélia
com Ofélia...

AML





sexta-feira, 25 de maio de 2012

O corpo


(Edvard Munch - On the waves of love, 1896)


NÃO CULTUO A FRAQUEZA DE COIBIR TUDO QUE ME INQUIETA.
NO FLUXO CA-ÓTICO
NO ABISMO (ANTI)SIMPATIZANTE
CRIO O MEU PRÓPRIO SOL.


AML

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Georgia on my mind

Como não sentir saudades de
Georgia?
Como não querer ficar em
Georgia?
Se eu tivesse mais a ganhar
se não corresse o risco de ser extraditada
de perder o visto (o que vês através de mim?)
de perder o tesouro que me cabe
valor indiscutível e incomensurável, tem
Georgia
em meu coração e minha mente
Sim, não teria mais medo e -
Investiria mais que uma velha canção
em Georgia.

Me apegaria mais
à paz e alegria que encontro em
Georgia
Envolveria mais que um jazz popular
Pois eu dispensaria
qualquer outros braços ao meu redor
que improvisam
o que eu encontro somente em Georgia
Consideraria
uma estadia mais longa que uma noite
se
Georgia
quisesse que eu me instalasse
em sua mente...

Mas a estrada de Georgia
não vem
em minha direção.
Georgia,
Georgia,
me instalaria mais que uma noite em seu hotel
Se não corresse tanto
mas tanto risco
de perde-la
 - novamente -
de vista...

AML

sábado, 19 de maio de 2012

The night

Ouvir a mesma música dez, vinte vezes
e em todas elas pensar
que
eu menti.

Pensar que está segura(o)
ao jogar o mesmo jogo
nunca quis estar longe
quando estava tão perto
mantive a firmeza (?!)
com as pernas bambas
sempre entrelaçadas com o inimigo
no escuro
onde não podia me ver
nem saber onde estou.

Sempre fui apaixonada
desde o primeiro dia.
Parece piegas
essa coisa de pele
de toque
de afinidade assustadora...
E tudo volta e volta sem permissão
sem pedir licença
simplesmente quer se instalar e pronto.
nem hospedeiro nem parasita
Sem querer
querendo cada centímetro
               cada minuto
               do jeito que é.

Sim, eu Fujo
porque é dual
uma hora é, na outra nada
Na dúvida
tensiono o corpo
pra que ele seja desonesto
Encurto as palavras
travo outros diálogos só para não sentir...
Pois sinto falta do que sinto
procuro
e não acho
porque quero
"isso".
Sem nome
Sem nexo
som que nunca ouvi antes
e ouço sempre...

Até que as cortinas se abram
e outro mundo apareça...

AML

(Soundtrack inspiradora: The night, Morphine)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Perxistência

(John Everett Millais - Ofélia, 1851-1852)

Existir dói. Sem pessimismos, leitor. Não há bajuladores da morte por aqui. Isso - sentir que existir dói -  não deixa de ser um caráter afirmativo da vida; não deixa de estilizá-la como desejável, alegre, embriagante. Nem sempre a dor pressagia infelicidade: aproximação esta um tanto rasteira e descompromissada com os próprios afetos. A dor também enuncia que há algo aqui dentro, pulsando, que não é evitado: é sentido, burilando a mente e o corpo simultaneamente - pois são um só. Entretanto, estamos inseridos num mundo cujo formato é da satisfação imediata, do prazer e do gozo, da felicidade concreta (e não como promessa) no agora, o que torna contraditório admitir a sensação de desconforto gerada pela dor. "Desconforto" é palavra de ordem para poucos; nem todo mundo se ambienta confortavelmente no desconforto de uma terceira margem, e vive ensimesmado, esperando que o tecido rugoso da vida se torne poroso, cheio de atalhos e mais atalhos para que a dor não se torne pungente. Atalhos, será? Ou pontos de fuga?

Em ambos os casos, o que está em jogo é a satisfação, que nos acomoda a alguma fórmula de bem estar. No primeiro, a instabilidade e finitude ainda é, de certa forma, admitida: trata-se de projetos efêmeros de felicidade, sempre propensos a serem "substituídos" por um novo atalho que impede, com mais "eficácia" (?!) de ser incomodado pela dor. O vazio - causa-mor da dor -  sempre é preenchido com novas empreitadas e investimentos fugazes de uma noite, um drink (a mais), uma conquista objetiva (mérito, poder aquisitivo, status), etc. A dor é solapada porque aparentemente "não há falta de nada". Mas a nossa própria natureza é de incompletude e tão logo um projeto imediatista fracassa, tão logo somos avisados desta nossa condição. E tão logo alcançamos a meta, mudamos novamente o alvo de direção... É assim. A dor é adiada, apenas. Procrastinar é um hábito que também tem hora marcada. Afinal, atalhos, meu caro, podem conduzir à ruas sem saída, endereços falsos e repleto de salteadores.

Da mesma forma se dá com pontos de fuga, mas com uma pequena ressalva - talvez uma espécie de pretensão acolhedora, que nos acomoda na inércia do "não pensar sobre isso", nos colocando como coadjuvante da vida que a preenche com fórmulas prontas, equações binárias cujo x é, sempre, igual a y. E ponto. Fica o dito pelo não dito; e o vazio é ocupado com o que supostamente é esperado de cada um: ter isso, ser aquilo - um trabalho ideal, encontrar o parceiro(a) ideal, com quem teremos um amor ideal, uma vida ideal, uma felicidade ideal, uma velhice ideal. "Ideal"??? Percebe? Nada provisório, tudo certo, definido, bem acabado pelos engenheiros do Condicionado. Os pontos de fuga projetam uma felicidade que parece estar aqui, pertinho de nós, nas coisas cotidianas que todos devem almejar, mas na verdade está projetando um plano absoluto de felicidade que discorre acima da vida: cadê a instabilidade, a finitude? O que garante que toda esta arquitetura faraônica da felicidade gere felicidade? Nada. Mas este nada não é sobrepujado quando o tempo é tão ocupado com projetos e mais projetos... de felicidade...

Veja bem: não se trata de desejar a dor; nem de ignorá-la completamente. É um ouvir de dentro, as ruminâncias do corpo que fala. Toda dissonância desemboca numa beleza de vida, que dói a cada suspiro, com o tempo que passa apenas prometendo mais um dia: tempo é cria-dor de outro dia, outra casa, outro amor. Um espaço - vago - que interroga e dilacera sem machucar. Doa a quem doer, passa; há sempre um sopro (de vida) que disfarça esta incomensurabilidade latejante que nos aperta e nos solta o tempo todo. Nem atalhos, nem pontos de fuga: apenas um disfarce, uma máscara, um personagem no coro dissonante. E disfarçar não é vontade de se emancipar do incômodo, um querer se livrar, se libertar, re-mediar. É dinamizar as rotas, driblar os salteadores e caminhar sobre o abismo que é ser cria-dor de si mesmo.

AML

domingo, 13 de maio de 2012

Atalhos

Meio melancólica
meio letárgica
meio a fim.
Poupemos a intimidade da palavra amor
Dá um sujeito inteiro?
Pela metade.
Um terço
ou dois oitavos
Conta que não fecha
Querer motivo pra ficar quando não tem motivo algum
Mais uma cerveja
sem querer beber mais
outra música
outra noite
outra esquina
Longe.

O silêncio rodeia
sem dúvida.
Sem expectativa
Dúvidas
dentro
denso
rugoso tecido da vida.
Se ela ficar à vontade
se entrega.
à espreita
com os pés de Curupira
Deves mesmo falar?
Temor e tremor
há medo da paixão
recíproco...

AML

domingo, 29 de abril de 2012

"Não se erra no tango"

(Cena do filme Perfume de mulher)

Um
dois
três passos.
Para frente
para trás
Pernas entrelaçadas sem compromisso
omisso
escorrega a mão pelas costas nuas...
tuas...
pernas se movimentam em direção
oposta
Na dança
não há o que ser visto a olho
nu.
Sensação de pele
cheiro de pele
Sem nome e sem passos marcados
porque sem compromisso
isso
é dançar
amar
o momento é de (des)velar
Sem medo de pisar em falso
com a agulha do salto no coração alheio

Uma dança
de criança que joga e muda as regras
não há passos marcados
a sombra movimenta-se levemente pelo salão
Entrega.
Dançar é amar sem amarras.
Amar é dançar sem amarras
                       sem medo.
Não há passos marcados
demarcados por antes ou depois da música
Só jogo
entre-laçados
pelo o que não podem ver...

AML

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Uma noite, um Scott, duas pedras de gelo.

(Entediada) -  Me convença que este rodeio todo sobre o que pensa sobre o Romantismo há de chegar em algum lugar interessante. Vou te dar uma pista: o que exatamente você deseja, ou melhor: o que te leva a acreditar que de fato eu posso correspondê-lo? - Ela o desafia. 
(Surpreso) - Direta ao ponto, hein? - Ele topa a empreitada.
(Entediada) - Não, querido. Aqui ainda não há direção. Pode ser que eu fique e tome mais um drink com você, pode ser que eu simplesmente vá embora...  - Disse, fitando-o.
(Surpreso) - Sou tão chato assim? Ou estou sendo inconveniente? - Ele mexe o whisky que pediu,  fitando-a.
(Maliciosa) - Não é isso. Talvez um pouco presunçoso... Brincadeira! Só não entendi onde você quer chegar... E...  - Ela é bruscamente interrompida. 
(Ansioso) - Te achei linda.  - Ele se aproxima, mas não a beija.
(Sem paciência) - Obrigada! Mas só isso lhe apetece?  - Ela se aproxima um pouco mais.
(Ansioso) - Eu quero você. Quero muito te beijar, agora. - Ele não a beija.
(Entediada) - Por quê?  - E ela pensa: "meu deus, desde quando é necessário enunciar um beijo, como se fosse uma premissa lógica!"
(Sem resposta) - Ora, porque te achei linda. - Ele sorri, mas sem graça.
(Entediada) - Você é sempre repetitivo assim? 
(Jogador) - Só quero te convencer a ficar comigo. - ele a beija no pescoço, mas não diz incoerências ao pé do ouvido.
(Irônica) - "Não está conseguindo..." - ela pensou, enquanto desviava de um beijo atrasado.
(Jogador) - O que você quer, afinal? Te achei interessante, meio tímida, mas decidida. É inteligente, embora pense que é uma pesquisadora medíocre. Tem um senso de humor refinado, meio ácido, meio doce, é divertida e tem um jeito muito charmoso de ficar entediada.
(Surpresa) - Percebeu que fiquei entediada?!  - "E por que deixou-me ficar entediada!!!" - pensou. Ganhou um ponto! Continue. Me fale mais: o que você quer de uma mulher?
(Esperto) - Se eu te responder, toma mais um drink comigo?
(Curiosa) - Deal. 
(Jogador) - Ok. Olha, tenho bons motivos pra não desejar mais nada além de sexo... (risos) Embora eu também não queira ficar sozinho... - Sorriu: sorriso mais pra canalha que pra Clark Gable.
(Curiosa) - Desilusão, né?! Também passei por uma há pouco tempo. A recíproca é verdadeira, meu caro: eu também tenho boas razões para não desejar nada além de sexo; embora eu também não queira ficar sozinha.
(Direto) - Ficar sozinha te incomoda? - Ele a desafia.
(Curiosa) - Defina "ficar sozinha". Não estou só agora.
(Direto) - Você está saindo com mais alguém? - E depois do desafio, desponta a insegurança infante de um homem maduro (?!). 
(Irônica) - Mas o que é "ficar sozinha"? - Ela topa jogar. 
(Embaraçado) - Você está solteira, certo? Isso te incomoda? - Ele pensa que isso é um brilhante xeque-mate.
(Séria) - Por que deveria me incomodar? Não me sinto só porque estou só, entende?
(Embaraçado) - Claro... Isso me faz pensar no seguinte: se não quer ficar sozinha, certamente não quer apenas sexo. E então, me fale, pois estou curioso: o que você deseja de um homem?
(Objetiva) - Compania. Sexo está embutido em "compania".  - Ela ri.
(Perplexo) - O que?
(Objetiva) - Compania. O que foi? Achou mesmo que eu vivo esperando alguém que caiba nos meus sonhos??? Então é assim: ou isto, ou aquilo? Preto no branco? Cazuza não pediu piedade pra ti também? - Ela ri, ironizando-o. 
(Perplexo) - Não esperava ouvir isso. Mesmo. Na sua idade, as mulheres ficam loucas pra se casar, tem medo de ficarem solteironas, não ter filhos e, literalmente, murcharem.
(Interessada) - Ha, ha, ha! Você não está totalmente enganado, querido! É difícil não pensar nestas coisas, mas encaro por outra perspectiva: não deposito todas as minhas expectativas e sensação de felicidade nesta fórmula - casar e ter filhos. Isso é consequência e não finalidade: não posso fazer disso razão de minha vida, minha felicidade, meu amor. É isso.  - Ela acende um cigarro.
(Jogador) - E agora? Onde está o seu amor?  - Ele ainda quer jogar.
(Séria) - Está bem aqui.  - Ela aponta pra si mesma.
(Desapontado) - É melhor a gente ir. Vamos tomar um último drink lá em casa? - Ele diz,  pensando que isso é um xeque-mate.
(Desapontada) - Acho que não... É melhor eu ir, já passou a hora, se é que me entende... - Ela sorri, se levanta e  segue em direção à porta.
(Persistente) - Ei! Gostei de você.
(Desistente) - Eu também! Mas realmente tenho que ir.
(Persistente) - Eu te ligo.
(Desistente) - Está bem.

AML





segunda-feira, 9 de abril de 2012

Alguma coisa está fora da ordem... Há mesmo uma "ordem"?

Por que não ter tempo?

Por que transformar a vida numa trigonometria sectária insondável? 

Não entendo estas equações relacionais que as pessoas tem planejado para a própria vida. Em vez de simplificar - o que já é simples - complicam, multiplicam um perhaps ao infinito e o mundo desaba em lamentações, crises de baixa estima e medo da solidão. Não há mais tolerância com o tempo, com o jogo gostoso de se deixar seduzir pela novidade: a novidade deixa de ser novidade quando pronuncio o meu nome, a minha profissão e o meu status. Não há mais tolerância em conhecer o outro, aos poucos, camada por camada. O querer quer tudo mais rápido: se há qualquer espécie de compatibilidade, de afinidade, já é o suficiente para embarcar com TODAS as expectativas possíveis; e sonhar, assim, muito além do sonho. Não há paciência em descobrir aquela vontade gostosa de estar com alguém: porque simplesmente "estar com alguém" se torna suficiente, supre uma demanda social (hã?) de que ninguém pode se atrever a desejar um tempo para se deixar levar, para se apaixonar, se envolver. Estas coisas se tornaram instantâneas, já pressupostas numa troca de números de telefone, de um "aceitar amizade" (?!) no Facebook. Como assim?

Onde está o problema terrível em desejar ter tempo pra se jogar?  Ou melhor: por que o desejo de não estar só se tornou tão imperativo, a chegar num ponto em que o outro não consiga compreender que tudo o que alguém pode querer naquele momento (o que não quer dizer que seja definitivo, certamente) é tempo pra dissolver amarras, seja quais forem elas? Tenho uma hipótese: permitir este tempo vai de encontro a insegurança, a instabilidade, a angústia de não saber dar nome à novidade. Velhas conhecidas, este trio. Não dar nome solapa a possibilidade de haver um nome pra "coisa". Se torna uma relação bastarda, de origem "duvidosa". Entretanto, o que solapa qualquer possibilidade de relacionamento, seja qual for, é este furor de imediatez, de ter que decidir logo, de ter que "ser de alguém" e assumir os compromissos e responsabilidades que isso implica. E pra estes "velozes e furiosos", o tempo é o pior algoz. Ter tempo (pra si) gera náusea, inadmissível neste mundo em que o único jogo "válido" é o "jogo do contente".

Se conhecer e se dar a conhecer não necessita de sondar o que é insondável para que seja feita a melhor aposta. Não há "melhor aposta". Tudo é arriscar-se, expor-se, permitir-se. Assim construímos nosso mundo sem fixar se é na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença. É sendo. Podendo ser e criar-se(r). Não há razão em comprometer este jogo dinâmico da vida com equações complexas e ávidas pelo "x da questão". É hora de trazer o amor para as coisas simples e cotidianas. Para bons momentos que podem  - ou não - perdurar; mesmo numa relação com "nome e identidade", há dificuldades a serem enfrentadas e ultrapassadas, ora pois. E tudo demanda tempo... E isso não significa que o amor chegue tarde...

AML


sábado, 7 de abril de 2012

Sexta feira sem paixão. É?

(Henri Matisse. Duas figuras reclinadas sobre uma paisagem, 1921.)


Saudade...
Sentir falta de coisas bem pequenas
pra fazer "de dois"
como um abraço apertado pela manhã.
Dormir de conchinha
sentindo a respiração na nuca
Rir de um filme idiota
que não tem graça, mas fica engraçado, de repente
Falar da vida sem pudor
sem dar nome
sem pre-ocupar com expectativas excedentes

Como as coisas mais simples são infinitamente mais significativas quando partilhadas

Acorda num sobressalto
Sonhou um segredo bom
Mas a saudade levantou às 9:30 da manhã
querendo tomar café
Adiciona açúcar
Dispensa o pão porque está
Apertado
(in)satisfeito
lá dentro
como se coubesse o mundo
pra preencher... o que?
Não é tristeza, definitivamente
É querer
Querendo mais sem poder querer menos

Ah, bruta flor do querer...
Caetano avisou.

AML

domingo, 25 de março de 2012

Minha pele.

(La paresse - Felix Vallotton)


SEMPRE HÁ O QUE (DES)VELAR POR DEBAIXO DA PELE...
MESMO DEPOIS DO TEMPO AVANÇAR
DO AMOR ACABAR
DA SOLIDÃO IMINENTE

AH... O VAZIO...
IMPRIME QUERER...

E QUERES O QUE?

NÃO APOSENTAR
O DESEJO PELAS NOVIDADES
O AFÃ PELA BELEZA DISSONANTE
TÃO INDEPENDENTE
E FELINA

O AMOR RESISTE MUITO MAIS QUE SETE VIDAS...


AML






quinta-feira, 22 de março de 2012

Labirinto






O VAZIO NÃO ME INCOMODA.

AML











(Direitos reservados ao autor da foto. Extraída de: forum.zwame.pt)                                                                               

Queres o que não quer querendo

(Pieter Mondrian. Moulin au Soleil Rouge, 1908)

Por mais que todo tumulto seja evitado, ainda assim o moinho não pára.
Tom performático de viver:
estabelece prioridades,
                 missões,
                 objetivos,
                 métodos,
                 etc...
Mesmo sabendo que o moinho não tem controle,
segue seu próprio fluxo,
         seu próprio ritmo.

Querer um copo d'água que não transborde sentimentos
desviantes (?!) do que quer
E sempre quer mais
Querendo menos.
Em cima do muro
sem concreto que o sustente.
Sim, imprevistos ocorrem.
E quando menos se espera já se encontra ali -
vulnerável
amedrontado
sem querer e querendo demais.

Antipatia simpatizante:
querer se levar e ser amarrado no mastro
deixar se seduzir e se lembrar das horas - tão inadequadas e rigorosas.
Mas já está ali...
Jogando o mesmo jogo
apostando as mesmas fichas
e criando novas regras.

Sem querer
já quer o que não quer.

AML

Volte para o seu lar

Estar só.
Como um andarilho, em busca do encontro com o futuro.
E o futuro não basta
porque falta alguém que lhe estenda
a mão
e queira abraçá-lo bem forte,
acaricie os cabelos atrapalhados pelo vento,
e o escute chorar
qualquer angústia que o consuma
e o deixe gritar todo "e se" que o apavora:
                                 "e se eu me enganar?"
                                 "e se eu não conseguir abrir a porta?"
                                 " e se eu me apaixonar na hora errada?"
Você já está apaixonado, já se enganou (é óbvio que está apaixonado)
e está prestes a fechar a porta (não queres estar apaixonado) - diz.
Se jogue.
Como nenhum moralista é capaz de se jogar.
Mais alegria
menos perhaps
Mais ousadia
mais simples
mais fluído.
Deixe estar
deixe entrar
deixe ser -
Amor.
Única casa pra onde sempre voltamos.

AML

terça-feira, 6 de março de 2012

Sendo o que é, sendo o que pode ser

(Parte selecionada da pintura Der kuss - Gustav Klimt, 1907-1908.)

Não saber é excitante...
Hoje
ou amanhã
talvez dia nenhum.
Algo que atrai e
ao mesmo tempo
repele (ou não...)
e ao mesmo tempo
quer mais...

Sem saber o que quer
(ou não...)
apenas indo
onde as pernas se encontram
e se perdem querendo o chão que
isto não habita.

Nem santo
nem profano.
Não há nome nem adjetivos.
Há apenas uma pele que
já conhecia
e hoje (re)aparece
madura
suando  - como outrora
na nuca
exalando desejo de amar
de se amar
de se engalfinhar no escuro
na rua vazia
no coração possível.
É possível?
É...

AML

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Reflexo avec retrato



Eu tenho este rosto de hoje
assim calmo, assim alegre, salubre,
e tenho estes lábios adocicados
                              macios
                              que adornam amor em pedaços.

Eu tenho estas mãos fortes
dinâmicas e calorosas, que abraçam
                                   a vida, o tempo, e as marcas que deixa.
Eu tenho um coração aberto e vivificado, dissonante.

Eu (me) dou por esta mudança
simples, porém tão incerta:
a minha face não se perde no espelho.

(Homenagem a Cecília Meireles)

AML


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O amor não chega tarde



Tanta coisa calada
que quis ser dita e evaporou no escuro
Tanta canção não tocada
por receio de tocar onde não deve
mexer no algures do eu (des)conhecido
apagado
entre tinta óleo e aguarrás.

Uma gota d'água que não fez transbordar nada
Já não transborda mais nada
Simplesmente porque transbordar cansa.
Não fazer nada...
Não querer nada e nada querer
Mover-se e criar cansa quando quer nada que desassossegue.
Não parece um paradoxo?

Tímido.
Intimidado.
Abafado.
O ágon enfraquece quem evita
a instabilidade do tempo de...
                                             Amar.

De tudo posto -  ou não
ficou o amor
Na mensagem não enviada
por falta de (des)crédito
Na conversa não terminada
No coração aberto
desejoso do porvir.
Tatuagem que não descolore
mas é coberta por outra
mais viva
mais forte
mais presente que ente.

Todo dia
o amor é novo e agônico.
Mesmo ao estar no lugar de antes - no ponto de partida
Em direção ao outro mas
Dentro.
Aqui dentro.
Onde tudo começa e termina
e vive
mais uma vez.

AML

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Poesia

A minha vida
a sua
e a de qualquer um
não rima com a vida
de ninguém.

Somos (?) versos livres - sim?
eu sou um verso desprendido de qualquer gramática.

Diante de tantos afetos
que desejam
anseiam
a serem partilhados
ainda assim somos versos livres
em constante (re)fazer-se
entre linhas harmônicas e desarmônicas.

AML

sábado, 28 de janeiro de 2012

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

2012

Passeei pela ponte de Kafka
pelos jardins de Monet
pelo inferno de Dante
pela solidão de Zarathustra
seguindo e seguindo.
No meio do caminho
tinha Drummond
fazendo pulsar meu coração selvagem de Clarice
permitindo-me viver
uma
duas
três vezes.
E quantas puder
sem frear o desejo
a angústia
o amor
e a alegria de ser.

Se acaba,
recomeço
em outro lugar.

AML