sábado, 9 de agosto de 2008

Se foi (?)

Quão assombroso é a contingência...

Amanhã posso simplesmente não ser nada além de lembranças, uma pintura intimista de alguém. O tempo, na verdade, é um grande paradoxo: permite tanto que os nós da existência sejam desatados, na vã tentativa de nos livrar da angústia de viver; como nos reserva (talvez essa não seja a palavra mais adequada, mas, continuemos) a dúvida sobre o que pode se suceder nos próximos milésimos de segundo...

Deveras, viver é uma dádiva cruel. Uma ambrosia que também amarga, que dilata os poros e deixa nossos olhos esbugalhados. Embora isso não seja mais comum, ainda conseguimos ficar pasmo com um único suspiro - seja de alívio ou não. É ridículo nos rebaixarmos aos desafetos, porém, é desprezível desejar uma vida só de sabores afáveis. Viver exige coragem e disposição para rodar em círculos: porque sempre iremos inaugurar a fortuna da felicidade com um quê de insatisfação...

domingo, 29 de junho de 2008

Indo embora...

Não entendo o que vim fazer aqui, onde as pessoas me vêem pelo espelho. Tudo o que digo e penso não tem o menor valor, é entendido como farpas e exaltação desnecessária. Cada esforço é inútil, cruel tentativa de ser eu mesma dentro de um círculo que preciso ser outra para ter uma demonstração de afeto qualquer.

Meus objetivos e sonhos são devaneios senis de uma alma velha, teimosa, por isso sem credibilidade - além da minha própria persistência. É triste - ou melhor - desconfortável saber que não tenho uma parede concreta sequer para me encostar quando sentir-me fraca; não tenho ninguém aqui (agora entendi porque é melhor não precisar disso mesmo) que reconheça meu esforço, minha batalha exaustiva por querer jogar no time adversário. Não há uma palavra que eu diga aqui que seja ouvida com atenção e o mínimo de respeito: não se respeita o que não consegue se impor...

O grande problema é que cansei... mas não vou fugir disso... porém, ainda hei de mostrar-lhes o contrário...

domingo, 9 de março de 2008

(In) Possibilidade

Sinceramente, não acredito neste amor copernicano. Devo ter furado a fila quando era necessário esperar ou - pior ainda - entrei na fila errada, por que simplesmente concebo que tal empreitada está condenada ao fracasso. Nem se eu virar o outro pelo avesso, não há como apreende-lo plenamente e tampouco faze-lo desejar livremente sentir-se "propriedade privada ltda" de um bem querer viciado.

Em contrapartida, confesso que não é nada fácil compreender que não há exclusividade absoluta, mesmo que não haja um deslize concreto, o desejo habita o pensamento, o inconsciente, as fantasias sexuais... etc... Posso até conseguir evitar que o outro efetive uma relação secundária, mas não posso evitar que ele pense nesta possibilidade...

Deveras, creio que um meandro - entre tantos - inteligente é crer que em uma infinidade de alternativas, se alguém está comigo, é porque ao menos sou a alternativa mais interessante (até ele ou eu encontrar outra mais interessante - o que também é possível). Isso não patentiza a promiscuidade nem apologiza as relações efêmeras, apenas retira o Véu de Maia de uma felicidade fajuta, que não lida nem responde às diferenças, aos conflitos e contradições naturais. Assim, cada momento torna-se livre de qualquer obrigação com "a moral e os bons costumes" que proclamam uma fidelidade impossível de ser preservada (poor childrens!)... apenas consegue
consagrar ainda mais a dificuldade de aceitar que entre tantas, não sou mais que uma possibilidade...

Não é à toa que os "devotos de Copérnico" foram perseguidos e, por vezes, mortos. Que idéia mais sem eixo, esta de circular eternamente em torno de apenas uma - possível - estrela...

domingo, 6 de janeiro de 2008

(de)sossego

Não há razão plausível para continuar esperando você pular a janela, já que entrar pela porta da frente lhe parece muito démodé. Racionalizar tal desencontro aparentemente é o mais razoável, porém, desde qual milênio estes encontros e desencontros são medidos pela sensatez? É intenso e grotesco, ao mesmo tempo que a beleza emerge em cada centímetro cúbico da dor e do desencanto.
Deveras, não há sensação sublime que antes não seja testada: o que for de fato incondicional não é medido pela felicidade, mas pela capacidade de tolerar os dessabores tão circunstanciais. Nossa condição inacabada e imperfeita nos lança em um mundo encoberto pelo Véu de Maia; não permite que uma percepção além da ilusão seja disseminada, pois, para isso, teríamos que admitir a dor como característica ontológica de cada um. Isso não é tão interessante... Ainda mais neste plano permeado pela beattle-mania: "all we need is love" ... Eles esqueceram de mencionar que não é tão simples assim...
Ninguém troca um amor aparente por uma dor verdadeira... Talvez seja esta a razão preliminar que corrompe o amor tranquilo e nos condena ao constante desasossego.