domingo, 25 de agosto de 2013

O passageiro

Sou estrangeiro.
Por ver e sentir o mundo
através da pele,
meu ser incomoda.
Respiro, ofegante, em meu próprio lar.
Meu corpo estremece, os pelos arrepiam,
dá medo. Mas não calo-me.
Tentaram me dilacerar, em vão.
Estou aqui, outro, intrépido.
A cidade desapareceu.
Ninguém enxerga o outro.
Meus vizinhos enlouqueceram,
chutaram um cachorro morto.
Como é fácil desviar o próprio lixo
para ocultar fraquezas e debilidades
de uma pessoa de lata.
Acordei sem coração,
ele fora arrancado por uma loira torpe,
mal articulada,
incapaz de amar algo além
do próprio ego.
Huma-lata, vira lata, ladra.
De tão vazia, bebeu água e enferrujou.
Ela não percebera, todavia, que
meu coração é grande,
não serviria naquele espaço emugrecido.
Ainda o sinto pulsar no meu olho, para que
eu veja com clareza minha condição:
sou humano, sempre outro diante do outro.
Visceralmente humano.