terça-feira, 15 de novembro de 2011

Sim.
Tem horas que a maior prova de amor é a despedida.
Ir embora sem dizer pra onde.
Mudar.
Trair ritos de união afogada
antes de perder o ar
Coçar os cabelos já não mais afagados
para criar provas contrárias à inércia
Deixa de andar de mãos dadas que não mais se tocavam
sem elo, o amor cria cascos
Não mais trovar versos que já não eram ouvidos com tanto zelo...
para partilhar palavras mesmo quando não querem ser enunciadas

É necessário saber ler o corpo (do)ente
que denuncia a distância
a ausência
o desconforto
o descuidado.
de um amor desnutrido pelo incômodo de precisar mudar
renovar as células
re-criar o ritmo
o compasso que bombeia a energia para querer ficar
sem medo de re-começar
hoje
amanhã
e depois
e depois...
Infinito enquanto durar.

Uma grande prova de amor é deixa-lo partir...
seguir
amar
cativar
viver
         a si.
Antes de se esvair de sede de amor.

Ir embora quando quer ficar
amor que doi por fora e por dentro
Entretanto -
Dor que engendra crescimento
Um querer amar ainda mais e de novo
Saudade que faz voltar pra casa
vazio preenchido com outra chance para ser o que se é.
Caminhada por fora do conforto
Furacão que destroi para refazer (se)

E partir
para a cria-ação
de si mesmo...
partilha da alegria
de si mesmo
antes de encontrar...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ao poeta itabirano

Eu não podia deixar de render homenagens a Carlos Drummond de Andrade, meu gauche inspirador. Dia 31 de outubro, é dia de poesia.

"Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor. 
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito, 
por isso frequento os jornais, me expondo cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava. 
Mas também na rua não cabem todos os homens. 
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é o grande mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão. 
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece. 
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada. 
Entretanto escorre nas mãos, 
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas? 
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, frágil e ridículo é meu coração. 
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam).

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade eu sou  muito pobre.

Outrora viajei,
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem. 
Entretanto alguns se salvaram e 
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor. 

Então meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo, 
meu coração cresce dez metro e explode.
 - Ó vida futura! nós te criaremos."

("Mundo grande" - Sentimento do mundo)