Eu fugi
Eu corri léguas de distância
Meus joelhos nem aguentavam mais
Meus pés mal suportavam o peso do meu corpo
e ainda assim eu corri até perder o fôlego
Quando me dei conta
percebi que mesmo estando tão longe
eu procurava você em outros rostos
Encontrei pelo caminho apenas reflexos
projeções sem cores do que deixara para trás
Estive em tantas cidades em que me vi
flanando pelas ruas em sua companhia
embora tenha sido providencial
estar apenas comigo mesma
Me perdi e me (re)encontrei tantas vezes que
nem tinha notado que havia se tornado rotina
andar por aí me ocupando apenas de
voltar para mim mesma
Tive tanto medo
eu ainda tenho medo de conceder um espaço para ti
e partilhar contigo a minha própria alegria
É um risco que me consome as vezes
quando me deparo com a possibilidade de que você
me jogue em mais um poço de dor
onde eu posso, talvez, sucumbir
Eu não tenho controle sobre nada
e perambulo sobre o abismo sabendo que
a qualquer momento eu posso cair
Mas confesso que me esforço em não precisar
lidar com a repetição de histórias e dissabores
mesmo sabendo ser em vão
Uma taça a mais de um notável estranhamento
nem é um exagero quando é emergencial
mudar de rota e dirigir por trilhas desconhecidas
Não há outra maneira de viver noutro clima
e respirar novos ares a não ser arriscando a pele
deixando para trás o cansaço, o esgotamento
para se permitir viver noutro lugar
onde o amor é estrangeiro.
Alexandra M. Lopes