sexta-feira, 25 de maio de 2012

O corpo


(Edvard Munch - On the waves of love, 1896)


NÃO CULTUO A FRAQUEZA DE COIBIR TUDO QUE ME INQUIETA.
NO FLUXO CA-ÓTICO
NO ABISMO (ANTI)SIMPATIZANTE
CRIO O MEU PRÓPRIO SOL.


AML

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Georgia on my mind

Como não sentir saudades de
Georgia?
Como não querer ficar em
Georgia?
Se eu tivesse mais a ganhar
se não corresse o risco de ser extraditada
de perder o visto (o que vês através de mim?)
de perder o tesouro que me cabe
valor indiscutível e incomensurável, tem
Georgia
em meu coração e minha mente
Sim, não teria mais medo e -
Investiria mais que uma velha canção
em Georgia.

Me apegaria mais
à paz e alegria que encontro em
Georgia
Envolveria mais que um jazz popular
Pois eu dispensaria
qualquer outros braços ao meu redor
que improvisam
o que eu encontro somente em Georgia
Consideraria
uma estadia mais longa que uma noite
se
Georgia
quisesse que eu me instalasse
em sua mente...

Mas a estrada de Georgia
não vem
em minha direção.
Georgia,
Georgia,
me instalaria mais que uma noite em seu hotel
Se não corresse tanto
mas tanto risco
de perde-la
 - novamente -
de vista...

AML

sábado, 19 de maio de 2012

The night

Ouvir a mesma música dez, vinte vezes
e em todas elas pensar
que
eu menti.

Pensar que está segura(o)
ao jogar o mesmo jogo
nunca quis estar longe
quando estava tão perto
mantive a firmeza (?!)
com as pernas bambas
sempre entrelaçadas com o inimigo
no escuro
onde não podia me ver
nem saber onde estou.

Sempre fui apaixonada
desde o primeiro dia.
Parece piegas
essa coisa de pele
de toque
de afinidade assustadora...
E tudo volta e volta sem permissão
sem pedir licença
simplesmente quer se instalar e pronto.
nem hospedeiro nem parasita
Sem querer
querendo cada centímetro
               cada minuto
               do jeito que é.

Sim, eu Fujo
porque é dual
uma hora é, na outra nada
Na dúvida
tensiono o corpo
pra que ele seja desonesto
Encurto as palavras
travo outros diálogos só para não sentir...
Pois sinto falta do que sinto
procuro
e não acho
porque quero
"isso".
Sem nome
Sem nexo
som que nunca ouvi antes
e ouço sempre...

Até que as cortinas se abram
e outro mundo apareça...

AML

(Soundtrack inspiradora: The night, Morphine)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Perxistência

(John Everett Millais - Ofélia, 1851-1852)

Existir dói. Sem pessimismos, leitor. Não há bajuladores da morte por aqui. Isso - sentir que existir dói -  não deixa de ser um caráter afirmativo da vida; não deixa de estilizá-la como desejável, alegre, embriagante. Nem sempre a dor pressagia infelicidade: aproximação esta um tanto rasteira e descompromissada com os próprios afetos. A dor também enuncia que há algo aqui dentro, pulsando, que não é evitado: é sentido, burilando a mente e o corpo simultaneamente - pois são um só. Entretanto, estamos inseridos num mundo cujo formato é da satisfação imediata, do prazer e do gozo, da felicidade concreta (e não como promessa) no agora, o que torna contraditório admitir a sensação de desconforto gerada pela dor. "Desconforto" é palavra de ordem para poucos; nem todo mundo se ambienta confortavelmente no desconforto de uma terceira margem, e vive ensimesmado, esperando que o tecido rugoso da vida se torne poroso, cheio de atalhos e mais atalhos para que a dor não se torne pungente. Atalhos, será? Ou pontos de fuga?

Em ambos os casos, o que está em jogo é a satisfação, que nos acomoda a alguma fórmula de bem estar. No primeiro, a instabilidade e finitude ainda é, de certa forma, admitida: trata-se de projetos efêmeros de felicidade, sempre propensos a serem "substituídos" por um novo atalho que impede, com mais "eficácia" (?!) de ser incomodado pela dor. O vazio - causa-mor da dor -  sempre é preenchido com novas empreitadas e investimentos fugazes de uma noite, um drink (a mais), uma conquista objetiva (mérito, poder aquisitivo, status), etc. A dor é solapada porque aparentemente "não há falta de nada". Mas a nossa própria natureza é de incompletude e tão logo um projeto imediatista fracassa, tão logo somos avisados desta nossa condição. E tão logo alcançamos a meta, mudamos novamente o alvo de direção... É assim. A dor é adiada, apenas. Procrastinar é um hábito que também tem hora marcada. Afinal, atalhos, meu caro, podem conduzir à ruas sem saída, endereços falsos e repleto de salteadores.

Da mesma forma se dá com pontos de fuga, mas com uma pequena ressalva - talvez uma espécie de pretensão acolhedora, que nos acomoda na inércia do "não pensar sobre isso", nos colocando como coadjuvante da vida que a preenche com fórmulas prontas, equações binárias cujo x é, sempre, igual a y. E ponto. Fica o dito pelo não dito; e o vazio é ocupado com o que supostamente é esperado de cada um: ter isso, ser aquilo - um trabalho ideal, encontrar o parceiro(a) ideal, com quem teremos um amor ideal, uma vida ideal, uma felicidade ideal, uma velhice ideal. "Ideal"??? Percebe? Nada provisório, tudo certo, definido, bem acabado pelos engenheiros do Condicionado. Os pontos de fuga projetam uma felicidade que parece estar aqui, pertinho de nós, nas coisas cotidianas que todos devem almejar, mas na verdade está projetando um plano absoluto de felicidade que discorre acima da vida: cadê a instabilidade, a finitude? O que garante que toda esta arquitetura faraônica da felicidade gere felicidade? Nada. Mas este nada não é sobrepujado quando o tempo é tão ocupado com projetos e mais projetos... de felicidade...

Veja bem: não se trata de desejar a dor; nem de ignorá-la completamente. É um ouvir de dentro, as ruminâncias do corpo que fala. Toda dissonância desemboca numa beleza de vida, que dói a cada suspiro, com o tempo que passa apenas prometendo mais um dia: tempo é cria-dor de outro dia, outra casa, outro amor. Um espaço - vago - que interroga e dilacera sem machucar. Doa a quem doer, passa; há sempre um sopro (de vida) que disfarça esta incomensurabilidade latejante que nos aperta e nos solta o tempo todo. Nem atalhos, nem pontos de fuga: apenas um disfarce, uma máscara, um personagem no coro dissonante. E disfarçar não é vontade de se emancipar do incômodo, um querer se livrar, se libertar, re-mediar. É dinamizar as rotas, driblar os salteadores e caminhar sobre o abismo que é ser cria-dor de si mesmo.

AML

domingo, 13 de maio de 2012

Atalhos

Meio melancólica
meio letárgica
meio a fim.
Poupemos a intimidade da palavra amor
Dá um sujeito inteiro?
Pela metade.
Um terço
ou dois oitavos
Conta que não fecha
Querer motivo pra ficar quando não tem motivo algum
Mais uma cerveja
sem querer beber mais
outra música
outra noite
outra esquina
Longe.

O silêncio rodeia
sem dúvida.
Sem expectativa
Dúvidas
dentro
denso
rugoso tecido da vida.
Se ela ficar à vontade
se entrega.
à espreita
com os pés de Curupira
Deves mesmo falar?
Temor e tremor
há medo da paixão
recíproco...

AML