quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um, dois, três minutos.

(Salvador Dali. A persistência da memória, 1934)

Jogo.

Palavra chave para o ter e não ter. Nem tudo, nem nada, apenas devir. Uma aposta com o tempo, visível e invisível.

É incrível como o tempo as vezes é tão voluntarioso, mudando de direção conforme o vento apruma... Sem rumo, numa encruzilhada, o sol aponta para todos os lados e tudo parece convergir para o mesmo lugar. Não, não é o mesmo lugar. Numa palavra: a vida nasce e renasce a todo instante, há mais morte na vida do que pretendemos suportar. Em cada suspiro, mais um segundo, menos um segundo...

Tempo tem tamanho.
Tem sentido.
Mas não tem direção.

Um dia sente amor e no outro não. Um dia quer calor e no outro frio. Um dia quer presença e no outro tudo falta. Falta até tempo para rememorar quando ainda nada fazia falta, quando a ambrosia escorria nos lábios e descia ventre abaixo... Tempo requer tempo para ter tempo de amar o amor que é feito de gozo, de alegria e controversas. Há farpas no amor maduro, água que não esfria mas empalidece quando perde a graça. Amor também é feito de chistes, pilhérias, rir de si mesmo como um pateta sapiens que não sabe nada. É leveza.

Há tempo para fazer tudo que pode. Desde que a cria-atividade tenha chance de inaugurar cada crepúsculo e cada alvorada; tempo de amar é tempo de novo. É tempo que comunica palavra amor mesmo quando o som parece sangrar. Se calado, o tempo brocha. Não come vontade, nem euforia, nem desejo contrariadamente aquietado na cama. Tem tempo que só resolve com a palavra. Não pode faltar tempo para a palavra afeto. Por um segundo, amor precisa de afeto cotidiano. Um, dois, três minutos. O relógio dispara...

Tic tac.

Mais um round: novo jogo, açúcar amargo, sonho feito de terra que mobiliza o amor livre... Tempo que pode voltar, pode partir, caminhar em outro tempo e recomeçar de onde partiu. Desencontro marca encontros quando não há subterfúgios. Coragem. Amar é coragem. Sem pressa de tempo, de morte, de futuro... é aí, cada segundo novo que evapora e renasce a todo instante...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Metade

Não,
Não completei
Nem com todos os versos e cores
Não terminei a pintura de si
É até bom
ser assim, metade
algo porvir
algo ainda a ser meio tudo
meio nada.
meio preto no branco.
Meio mistério
Meio desvelada.
Ser projeto
é auto defesa contra a solidão
meio solidão que sempre deseja se instalar.
Insatisfação?
Não.
Metade e só metade.
Meio vontade que cresce
e cria vida inteira.

Essa ideia de duplicidade
platônica
faz sentir metade como condição
meio completo meio vazio.
Tem que haver falta.
in-satisfação.
Projeta a felicidade do lado de fora
faz sentir pressa
o amor demora a chegar pra quem tem pressa.
Quer um erotismo meio moral
meio justo
meio ideal.
Quer meio tudo quase nada
amor meio fácil
meio calado
meio gemido
Torna a natureza
meio dor meio prazer
Sendo que é inteiramente alegria quando
acorda todo dia
meio sonhando meio acordada.
Meio sem saber e
meio sabendo
Meio sorrindo de alegria
para meio amor
meio resolvido meio complicado
meio porvir.
Não há meio verdades nem
verdades inteiras.
é tudo possível.
Meio completo meio feliz.
meio inteiro.
Meio livre
Meio de vida livre
sem falta
mas metade.

domingo, 17 de julho de 2011

Nem sei... mas sei.

Domingo.
dia bom pra capturar versos
cotidianos
Nuvens suaves como algodão desfiado
Sol quente
água de côco geladinha
dia gostoso...

Melodia
deu juventude a ideias senis
um cantar que trouxe alegria
Surpresa?!
Adoro ser surpreendida...
O mistério do não saber me fascina...
amar sem saber que ama
vestir o que (é) visto...
Dose homeopática para começar
outra semana
bem.

Derramar água para encher o copo
Derramar lágrimas pra encher (se) alegria
Suar o desejo de criar...

Recomeçar
Reconstruir
Renovar.

Palavras de peso pra domingo
tão concretas que não se dissolvem no ar
(A)firmam-se
dando a Dionisio a bela aparência de Apolo
e vontade
de criar novos rabiscos
outras formas de existir (Sim!)



Inovare.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Consola(dor)

Quietude.
Palavra do dia.
Um suspiro.
Um sorriso.
E futuro...

Fases de nós
fases de tinta seca
Encantos juvenis que desencantam (pois)
preenchem um vazio pitoresco
O vazio vazio
que angustia o sono
deixa a cama fria
alento erógeno
ausente de amor (profano)
de amanhã.

Tempo
parece não passar.
Mas passa.
consola(dor).

Sem medo
de amar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Outra vez

Melancolia.
Velha conhecida.
Não é tristeza, veja bem.
É saudade misturada com mudança.
Recomeço.
Re-inauguração.


O novo
me comove.
Um dia lindo depois
da tempestade de emoções
turvadas e exaustas.

Meu semblante sorri
expectativas
o devir joga os dados
e eu aposto novas fichas.

Não,
não dói como antes.
Mas está vazio
a euforia do amor.

Óleo sobre tela
Acrilic on canvas
é suave
bonito
o que quer aparecer aí.

Dia e noite
casa de vidro
Se(r) amo
vivo
feliz
do meu jeito
melancólico
sensível
na pele
que troquei (ontem).

Crio versos
e prosas
e liberto-me
da tristeza que quer me
devastar
Fico de pé.
Sempre.
Sorrio
Sempre.
Trago amor e não tristeza.
Mas está vazio...
tudo vazio...

sábado, 9 de julho de 2011

Antes

Foste mãe.
Quando queria
ser mulher.
Jogos truncados do devir (pode)
confundir assim
quando não há
voz
que afirme o que quer.

Faltou razões próprias
motivos próprios
amor próprio
inspiração
e alegria em ser o que és
                                   
Perdeste o tesão
do improviso
do amor que cria e re-cria
o gozo de viver...

Quando ele queria
apenas cuidado
 às avessas
Ela cuidou
                e ele aceitou o carinho de mulher
                como se fosse amor de mãe...

O cuidado com o amado
descuidou-te  
 - duplo equívoco de dois amores                      
O segurou no colo
O abraçou apertado à noite
E deixou-se do lado
                             de fora.
                             A mulher ficou menina pra ser mãe.
                             O homem ficou menino que queria colo
                             Só tinha amor que era seus, mas para outro.
                             Sem afirmar-se(r) Mulher
                             Sem afirmar-se(r) Homem
                             sonhava sonho que era só sonho
                             ela estava na janela dele
                             - e ele na janela dela
                             amando a vida que via passar...
                             Sem nada que a deixasse mulher feita
                             Sem algo que o fizesse ser quem é
                             no fazer vida e criar.
E para quê?
Se sabes que amas...

Hoje Mulher livre,
desprendida do outro
como auto afirmação.
Sabe muito bem o que quer...

Deveras, Mulher
encontrastes um amor
que não lhe pediu que deixaste
de se amar...
Que também não se amou
antes de te amar...

Paredes

Um tijolo de cada vez...
mais um dia
menos um dia
perdendo tudo
e ganhando novamente
                                 outro jogo.
                                 um oitavo selo se abriu
                                 xeque-mate.
Recria-ação
Sou eu e sou outra
que não conheces mulher
Um projeto arquitetônico
porvir.

Quero uma vida
que não caduca esperança
Que cativa o amor
em seus contrastes
Na angústia
que se torna prosa
Na saudade
feita de versos

Quero a beleza da cria-atividade
existência possível
e eternamente desejável
como é
             Meu amor restaura-se na arte
             Amarte.

Uma flor colhida vivendo fora d'água

Estes olhos verdes
cativados por Eros
já não declamam
o partir

O amor é
(in)pulso e dinamismo
que move-me a transformar
a vida
em constante cria-ação

Há beleza na dor
e prazer no re-começo
Reformo a tela
e deixo as cores entrarem
Paisagem abstrata
sem medo
de imitar o provável

Serei surpreendida?
Sim!
Sem ponto de fuga
agora
Amor em perspectiva.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ossos do ofício

Ossos do ofício. Amar, as vezes, é um vício em sonhar... Relembrando, cutucando, repetindo uma dor que envenena, pois busca o reencontro onde houve despedida. Sofremos recaídas, ressaca de um desejo guardado e não consumado. Tentamos reorganizar um tempo fluído, que já foi desperdiçado por pura vontade de preservar a harmonia... Uma pena, mas para esse ofício, não há regras, não há leis, tampouco previsão que forneça garantias ou uma lucidez instantânea acerca das circunstâncias. Trata-se de uma louca aventura: saltar de precipício em precipício e levantar-se em cada queda.

Cada amor é o primeiro e o último: após noites etílicas, prometemos nunca mais afogar-se na euforia do vinho... Até que nos encontramos apreciando-o mais uma vez...

O amor também esfola nosso rosto no fundo do poço: empreendimento descuidado quando há privilégios em jogo. E, como amantes indiscretos que somos, fazemos papel de imbecil, ao não enxergar, por pura teimosia, que amar é desprender-se. Mesmo estando com o amante ao lado da cama, é necessário compreender que amar é uma via de duas mãos; cada qual em sua singularidade, cria-atividade vivificada em si e compartilhada. Grande engano acreditar que o outro exige dedicação exclusiva: concurso público que garante uma vaga num coração carente. Cilada armada, talvez, pelo receio da solidão. Entretanto, caro leitor, é inegável que a vida segue em devir, o futuro é, citando Stendhal, beleza que promete felicidade. Mas pode não cumprir. 

Não, definitivamente, por mais razoável que seja tal resolução, não é fácil chegar até aqui. Como trabalhadores austeros que somos, alienados de si mesmos, nos contentamos com o vislumbre das vitrines do amor ideal, perfeito e verdadeiro... Porém, mal sabemos que tal ingenuidade perversa que vende a autonomia à comodidade em não lidar com as disparidades da convivência cotidiana nos leva a pagar, sobre um preço tão alto, o sacrifício da alegria que deveras é o amor livre... Nas vitrines, não conseguimos notar o momento necessário para recomeçar: pois todos os amores tem aparência de conto de fadas com um final feliz sempre ainda a ser alcançado - mesmo que se trate de um romance impossível de se concretizar.  A natureza, a vontade de ter tudo em nossas mãos, conduz ao desperdicío de forças na direção errada: após uma desilusão, todos os movimentos devem privilegiar a reconstrução de si mesmo. Não se perder na tentativa de reverter a história já escrita é um desafio: pois mãos vazias, engendram um coração louco.

Deveras, após a tempestade de emoções quando desiludidos, o amor torna-se improviso. Uma canção que só tem graça por corromper a harmonia, desfazer escalas e criar algo totalmente novo, inventado. Uma vida que se cria e recria simultaneamente... Perdendo para ganhar: pedir demissão e refazer-se numa nova empresa, dar licença para o novo (amor) entrar. Esvair toda a fluidez do corpo, da alma em frangalhos, apenas abre a mesma ferida de outrora, da dificuldade em lidar com a rejeição que não rima com os versos e prosas que traçam o encontro... e desencontro. Amar... em perspectiva e criação dinâmica, entre o belo e o sublime, a rima e os versos livres, a obra e o autor... 













sábado, 2 de julho de 2011

Solvente de tinta, solvente de amor em tela.

(Gustav Klimt - Detalhe da pintura O Beijo. 1937)

Uma cria-atividade pode elaborar em cores e formas a tristeza avassaladora, transformando-a em aparência de beleza. Não se trata de um exercício paliativo em digerir a rudeza e insignificância que substituíram a boa contemplação do que passou; antes, é apenas uma forma de lidar com o que é agradável, sem ocultar o grotesco que rumina dor.

Não há retorno para mundos e fantasias já desfeitas, mas ainda permanecem vivos como um quadro pintado na memória - embora também possa ser pendurado na galeria do esquecimento. E o que leva, caro leitor, um amor  tão grande se tornar mais abstrato do que é? O que leva, caro leitor, ao desejo intencional de se desfazer de uma obra tão significativa e, agora, empobrecida pelo desvalor do que passou a representar? Eu não sei. Mas sinto em tons de cinza e gelo o que antes pulsava vermelho nas veias...

Proclamar o sofrimento em cores e poesia garantem uma economia emocional capaz de não radicalizar o desejo pelo amor em fluxo num silêncio absoluto e corrosivo. É uma garantia provisória que permite um caminhar por uma ponte acima do abismo ao qual nos lançamos a todo momento, mesmo querendo ficar à sua margem. Deveras, um recurso eficiente quando o artista desencantado não desanima em pintar outras cores, novas perspectivas em telas possíveis: o que permite um suspiro de alívio quando imerso na cólera...

A cria-ação.
Graça humana que volta o olhar para o fluxo da vida, em continuidade, possibilidade e recomeço.

 



sexta-feira, 1 de julho de 2011

Depois do silêncio,
um grito.
E um sentimento
de criação
imenso.

Amor
é sentimento de cria-ação.
Em versos
me livro da dor
e
jogo com a alegria
de viver.

O devir
não sabe perder...