sexta-feira, 26 de abril de 2013

Intervalos

Há um silêncio ensurdecedor
aqui dentro.
Um coração acústico preenchido
por nadas. 
Sem dó.
É sol.
Calo-me.
Abro a janela emperrada e
a luz entranha cada célula,
pulsa (des)harmonias,
cada sopro ecoa quimeras;
uma nova pele amanhece.

Mas acordei antiga, com a 
carcaça em cima da mesa.
Difícil é desfazer do apego
mesquinho que encera a casca mas
não permite o fruto amadurecer.
Por que ontem parece ter sido melhor que hoje?
Dei para isso, pensar que fui gente
e hoje sou casca - de gente.
Há tanta gente-casca que dói;
viver a seco, esperando a vida vir de fora.
A vida pulsa no nervo.

Quero fluir feito rio,
mesmo que não desague
no oceano pacífico.
Descascar a pele enrijecida,
permitir o vento gelado tocar 
a carne sensível.
Sentir de novo
dor e amor
e amanhã.

AML



O dia pareceu ontem,
fiquei cansada por três horas.
Senti-me pequena, tão pequena 
que até desapareci.
Sim!
É preciso ouvir aqui dentro,
sem t(r)emer ou engasgar vírgulas.
 

Quando o dia parece ontem
e cada minuto relembra meses,
anos,
uma década
engavetada.

Você fica pequeno,
tão pequeno que desaparece.
Sshshshshshshsh!
É preciso ouvir mais o que
toca aqui dentro.