Natividade - Adriana Varejão, 1987
Posso ser muitas
sendo eu mesma
por poucas vezes
nada pertenceu a mim
quando a porta se abriu pra rua.
Só aqui dentro eu vivo
e vibro meu ser
no meu corpo tenho o meu mundo
meu templo, meu todo múltiplo
eu não posso pertencer
ao que está fora do meu corpo
O tempo preenche a matéria
mas feito uma folha em branco
o mundo me diz que sou (l)oca
eu digo que sou o que
o mundo não quer ver:
mesmo que sejam curvas de delicadeza
nessa estrada o moço só vê
um retrato em crise, que insiste
em se adaptar a uma natureza que não cabe a ninguém
A imagem me aprisiona
porque não pode imprimir liberdade.