domingo, 15 de março de 2020

Casa


Natividade - Adriana Varejão, 1987

Posso ser muitas
sendo eu mesma 
          por poucas vezes 
nada pertenceu a mim
quando a porta se abriu pra rua.
Só aqui dentro eu vivo
e vibro meu ser
no meu corpo tenho o meu mundo
meu templo, meu todo múltiplo
                     eu não posso pertencer 
ao que está fora do meu corpo
O tempo preenche a matéria
                              mas feito uma folha em branco
o mundo me diz que sou (l)oca
eu digo que sou o que 
o mundo não quer ver: 
                              mesmo que sejam curvas de delicadeza 
nessa estrada o moço só vê 
um retrato em crise, que insiste
em se adaptar a uma natureza que não cabe a ninguém 
A imagem me aprisiona
                        porque não pode imprimir liberdade.