domingo, 7 de setembro de 2014

A primeira via

É fácil apontar o dedo para o outro
quando os próprios olhos estão de costas.
Não conseguem ver o necessário
para (se) ler cada letra desconcertada
e defeituosa. Cada linha mal escrita,
mal-dita, (in)acabada num conto de fadas.

Tão mais fácil é julgar
quando os valores são unilaterais.
Sendo a via de mão única,
todos sempre estarão na contramão
das expectativas insaciáveis
de quem é incapaz de se identificar
nos próprios juízos.

Hoje enterrei todos aqueles que
olham para trás e se dizem desapegados
do passado. Incapazes que são do amor de si,
exigem do outro o amor de si e do além.
Não permitem que a estrada se apague no retrovisor,
querem sempre voltar, repetir as mesmas querelas.
Porque assim se auto afirmam pessoas de bem:
bem vazias, comprometidas com o que não tem volta.
E sempre terão uma coleção de pretextos para lhe dizer
o quanto você deixa a desejar em tudo que faz,
ou melhor: em tudo que não faz.

Meus sentimentos àqueles que apreciam
viver na eterna desilusão de si mesmo:
não erguem o véu que mais parece
ser uma cortina de ferro.
Não veem outro caminho,
não veem nada além dos desenganos,
desencontros, desacertos - sempre
provocados por um coadjuvante qualquer.
Sem criar perspectivas,
restam a esses desiludidos
apenas os pontos de fuga.