sábado, 29 de julho de 2017


Para um bom mergulho num mar de possibilidades
é mais prudente perder o fôlego. 







Fonte da imagem: https://ninhodejornal.wordpress.com/2016/05/23/imersao-por-que-e-importante-ouvirmos-e-aprendermos-mais-sobre-a-sua-marca/

Fonte da imagem: 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

(Re)trato



Ofertou-me um amor 
que só existe como efeito 
de um pharmakon:
em vez de sanar a doença,
envenena cada centímetro do corpo. 
Onde se respirava vida
restou apenas a poeira do deserto.
Feito a ausência com a qual me preenchera
para ter-me em seus braços mais uma vez.

Sua palavra vale menos
que um vintém que eu daria ao boticário
para que eu tivesse uma chance 
de ser imune às suas promessas vazias.
A vantagem de já ter sido vitimada
por um escorpião traiçoeiro
é que agora criei resistência 
ao seu hábito de fingir que tenho 
alguma significância para ti.

E como numa epifania, numa maçã mal mordida
reencontrei meu eixo gravitacional.
Nada como uma boa dose de veneno,
amargo,  de um pequeno frasco,
para comemorar a morte certa
do que antes me torturava.
Há liberdade maior que poder recusar
um convite a lugar nenhum?

De agora em diante, de minha boca,
terás apenas frescor do mais profundo silêncio.
Prefiro a minha solidão voluntária
a qualquer noite vazia que poderia ter contigo.
Do meu corpo,
resta a ti apenas a memória do meu perfume.
Nem em seus mais funestos delírios etílicos,
que geralmente são culpabilizados
pelo egoísmo febril que há em você,
compartilharei contigo a mesma cama.

Resta-lhe apenas 
uma fotografia desbotada,
de um tempo em que pude lhe dar tempo
e fizeste dele um poema
eternamente engavetado em seus rascunhos.










Créditos da imagem: https://pt.depositphotos.com/40726743/stock-photo-empty-picture-frame-isolated-on.html


Notas sobre o desapego: 
ao amar saltamos no abismo,
de olhos abertos.












Créditos da imagem: "ballon girl", stêncil de Banksy, em Londres. Disponível em: http://followthecolours.com.br/art-attack/banksy-recria-ballon-girl-para-marcar-conflito-na-siria/

A vida é um sopro

Nesse hiato entre o nascer e o morrer aproveita-se o tempo sempre esperando o dia seguinte, como se fosse certo um futuro que é apenas uma promessa. Ora, o tempo que temos é o presente. Um hiato de 24 horas entre o nascer e o morrer que pensamos ter o poder de estendê-lo por mais alguns minutinhos que seja - mas não podemos.

Criamos o hábito de depositar no futuro a nossa esperança, a nossa felicidade, o amor que não veio; sendo que tudo isso pode ser usufruído imediatamente naquilo que temos nesse instante, mesmo que seja diferente do que idealizamos em nossas expectativas. A propósito, expectativa, meu caro, é o caminho mais longo para viver o amor, que deixa de ser sentido para se tornar um projeto cuja sustentação é um ideal.

O amor está aqui, ó, enraizados em nós mesmos, embora tendemos a nos deixar no banco de reserva por medo de admitir que somos os únicos responsáveis pela felicidade que queremos viver. Nesse jogo do devir, o outro entra em campo para somar num espaço em o amor já é vivido a todo instante, dentro de nós. De tanto esperar algo que supostamente não está na vida presente, nem percebemos o quanto exigimos do outro algo que deveríamos fazer por nós mesmos. Sequer pensamos que esse outro, inclusive, é uma pessoa e não a impressão fenomênica do nosso ideal.

Temos tanta pressa para chegar no futuro que ignoramos o quanto poderíamos aproveitar mais nossas conquistas cotidianas, as pessoas que estão conosco no dia a dia, em nossa família, no nosso grupo de amigos. Temos tanta crença num futuro vindouro e tão pouca fé no presente... Enxergamos tanto amor no futuro e tão pouco amor no presente, já que só o vemos naquilo que não temos.

Só que a vida, meu caro, é um sopro. E num piscar de olhos o tempo se dobra, feito um bilhete num guardanapo que colocamos no bolso....


quinta-feira, 27 de julho de 2017

Aquiles



Invulnerável apenas no meu calcanhar. 





Fonte da imagem: http://maurilioferreiralima.com.br/2011/11/o-calcanhar-de-aquiles-2/

sexta-feira, 21 de julho de 2017

(Re)construção



O bom veneno, 
responsável pelo aniquilamento
do parasitismo existencial: 
se livrar do que pesa contra
a cria-atividade de si,
do que pesa mais que a bagagem inexorável
a quem se atreve a se fazer-se(r) quem se é.

Por uma afirmação da vida,
paradoxalmente é bem vinda a morte
do que não é bem vindo mais.
Do que não passa de ouro de tolo,
ou um lampejo falso no escuro.




Fonte da pintura: http://jhulyjohns.blogspot.com.br/2008/07/pinturas-da-morte.html