segunda-feira, 9 de abril de 2012

Alguma coisa está fora da ordem... Há mesmo uma "ordem"?

Por que não ter tempo?

Por que transformar a vida numa trigonometria sectária insondável? 

Não entendo estas equações relacionais que as pessoas tem planejado para a própria vida. Em vez de simplificar - o que já é simples - complicam, multiplicam um perhaps ao infinito e o mundo desaba em lamentações, crises de baixa estima e medo da solidão. Não há mais tolerância com o tempo, com o jogo gostoso de se deixar seduzir pela novidade: a novidade deixa de ser novidade quando pronuncio o meu nome, a minha profissão e o meu status. Não há mais tolerância em conhecer o outro, aos poucos, camada por camada. O querer quer tudo mais rápido: se há qualquer espécie de compatibilidade, de afinidade, já é o suficiente para embarcar com TODAS as expectativas possíveis; e sonhar, assim, muito além do sonho. Não há paciência em descobrir aquela vontade gostosa de estar com alguém: porque simplesmente "estar com alguém" se torna suficiente, supre uma demanda social (hã?) de que ninguém pode se atrever a desejar um tempo para se deixar levar, para se apaixonar, se envolver. Estas coisas se tornaram instantâneas, já pressupostas numa troca de números de telefone, de um "aceitar amizade" (?!) no Facebook. Como assim?

Onde está o problema terrível em desejar ter tempo pra se jogar?  Ou melhor: por que o desejo de não estar só se tornou tão imperativo, a chegar num ponto em que o outro não consiga compreender que tudo o que alguém pode querer naquele momento (o que não quer dizer que seja definitivo, certamente) é tempo pra dissolver amarras, seja quais forem elas? Tenho uma hipótese: permitir este tempo vai de encontro a insegurança, a instabilidade, a angústia de não saber dar nome à novidade. Velhas conhecidas, este trio. Não dar nome solapa a possibilidade de haver um nome pra "coisa". Se torna uma relação bastarda, de origem "duvidosa". Entretanto, o que solapa qualquer possibilidade de relacionamento, seja qual for, é este furor de imediatez, de ter que decidir logo, de ter que "ser de alguém" e assumir os compromissos e responsabilidades que isso implica. E pra estes "velozes e furiosos", o tempo é o pior algoz. Ter tempo (pra si) gera náusea, inadmissível neste mundo em que o único jogo "válido" é o "jogo do contente".

Se conhecer e se dar a conhecer não necessita de sondar o que é insondável para que seja feita a melhor aposta. Não há "melhor aposta". Tudo é arriscar-se, expor-se, permitir-se. Assim construímos nosso mundo sem fixar se é na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença. É sendo. Podendo ser e criar-se(r). Não há razão em comprometer este jogo dinâmico da vida com equações complexas e ávidas pelo "x da questão". É hora de trazer o amor para as coisas simples e cotidianas. Para bons momentos que podem  - ou não - perdurar; mesmo numa relação com "nome e identidade", há dificuldades a serem enfrentadas e ultrapassadas, ora pois. E tudo demanda tempo... E isso não significa que o amor chegue tarde...

AML


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