quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Não mais "se"



Antes que a melancolia me devore viro pássaro.

A vida presente é o bastante.

Por trás da palavra há um abismo de carne e osso.

Meus verbos escorrem sangue.

Amores etílicos evaporam.

Desilusões endurecem a epiderme.

Amanhã é uma expectativa que tende a nos foder.

"Eu te amo" é uma metáfora.

Salto no abismo sem paraquedas.

Prefiro pimenta a qualquer tempero falso.

Não há movimento retilíneo uniforme quando amo.

O outro não pode me conceder a felicidade que não possuo.

Dentro de mim o vento sopra dissonâncias.

Não acredito em promessas.

Reticências me levam a pensar dissabores.

Perco a paciência com a ruminação intelectual.

Não acredito em coisas que tenham a pretensão de serem definitivas.

Adoro queimar a língua com café quente.

Digo não a qualquer um que não queira amar e insiste em viver de amor.

Me entrego por inteira até quando é meio dia.

Não partilho com alguém o que não não tenho cultivado dentro do meu corpo.

Quero ser artista para criar minha alegria e não ter a fraqueza de ascetas.

Um minuto gira sentimentos incomensuráveis.

Crio meu universo particular com versos livres.

Adoro magenta.

Não guardo nem meia palavra que precisa ser publicada ao vento.

Disfarço o tecido rugoso que constitui a contradição da vida com poesia.

Saber o que quer não evita nem pequenos nem grandes fracassos.

Permito-me desistir do sono quando as madrugadas são anônimas.

Estado de inquietude é tão necessário ao poeta quanto oxigênio à vida.

Prefiro o sentido trágico da vida a um otimismo sufocante.

A pior solidão é quando a própria companhia é insuficiente.

Nenhum amor é vão.


AML