sexta-feira, 11 de junho de 2010

L'amour....

"Quando o amor entra no meio, ele se torna o meio"...

Amor... será pronúncia do inaudito, mas sem a pretensão clássica e tradicional de decifrá-lo ou compreende-lo? Será apenas sentir... aprecia-lo numa tarefa interminável em compartilhar o paladar com alguém??

Amar está muito além de qualquer fronteira gramatical, moral, lógica...de qualquer instância da Verdade, da Beleza, da Medida. Abrange tudo que desejamos e o que equivocadamente pretendemos - em vão - evitar. É um (des)velamento do humano, por isso, não há como escapar de toda disparidade que tal experiência sublime pode nos proporcionar. A visão "genérica" do amor ideal nos leva a busca-lo sem trégua mas, ao mesmo tempo, nos leva a crer que ao encontra-lo viveremos uma experiência extática ausente do sofrer, de qualquer dor; não queremos acreditar que amar também tem o seu ônus e que não finda com qualquer inconstante - é um desejo pela transitoriedade que não pode se esgotar.

Porque cargas d'água queremos, ansiamos mesmo, crer que amar é encontrar uma réplica de nós mesmos em outra persona? Qual é o descrédito em vivenciar o diferente, para que fracionar o incomum? Só para sossegar as emoções, aquietá-las numa esquife comum onde devo enfadar qualquer novo querer?

Ora, ora, não é que o gato da fantasia platônica subiu no telhado? Não me entendam, apenas permitam-me anunciar outras perspectivas.

Vinícius de Morais - quem literalmente foi um amante incondicional, no sentido ambivalente mesmo - uma vez afirmou que "o amor é o encontro, embora haja tantos desencontros". Sem delongas: não há como amar sem lidar, dia a dia, com o singular, o diferente, o que de fato provoca um sentir que não se vicia na monotonia. Isso nos leva a (re)pensar o paradigma do "realcionamento ideal" (ideal para quem??), porque amar também é devir, é a complexidade de viver com alguém sem ambos tentarem anular a singularidade um do outro. Assim, engloba crises, desafetos, e outros tantos pequenos miasmas com os quais temos que estar dispostos a lidar. É complexo, caótico e abissal - como a existência "em si"... e cada duo de universos tão dissonantes deve esculpirem-se, juntos, como casal. Amar é uma cria(a)ção mútua, de uma Galathea que, aos poucos, é desvelada...
Nem Apolo...
Nem Dioniso...
Nem Afrodite...
Amor é...
...
Fati.

Dedicado ao meu Amor Fati, de olhos e mente cor de amanhã.