domingo, 12 de setembro de 2021

Estrangeiro

 Eu fugi

Eu corri léguas de distância

Meus joelhos nem aguentavam mais

Meus pés mal suportavam o peso do meu corpo

e ainda assim eu corri até perder o fôlego

Quando me dei conta 

percebi que mesmo estando tão longe

eu procurava você em outros rostos

Encontrei pelo caminho apenas reflexos

projeções sem cores do que deixara para trás

Estive em tantas cidades em que me vi 

flanando pelas ruas em sua companhia

embora tenha sido providencial 

estar apenas comigo mesma

Me perdi e me (re)encontrei tantas vezes que

nem tinha notado que havia se tornado rotina 

andar por aí me ocupando apenas de

voltar para mim mesma

Tive tanto medo

eu ainda tenho medo de conceder um espaço para ti

e partilhar contigo a minha própria alegria

É um risco que me consome as vezes 

quando me deparo com a possibilidade de que você

me jogue em mais um poço de dor

onde eu posso, talvez, sucumbir

Eu não tenho controle sobre nada 

e perambulo sobre o abismo sabendo que 

a qualquer momento eu posso cair

Mas confesso que me esforço em não precisar

lidar com a repetição de histórias e dissabores

mesmo sabendo ser em vão

Uma taça a mais de um notável estranhamento

nem é um exagero quando é emergencial

mudar de rota e dirigir por trilhas desconhecidas

Não há outra maneira de viver noutro clima 

e respirar novos ares a não ser arriscando a pele

deixando para trás o cansaço, o esgotamento

para se permitir viver noutro lugar

onde o amor é estrangeiro. 


Alexandra M. Lopes