domingo, 6 de setembro de 2020

Amores líquidos

Salvador Dali - Galatea das Esferas, 1952 

 Não dizer nada

é  mais que qualquer palavra.

Feito o som que ninguém repara

mas que mexe e embrulha a vida, 

nem sempre para presente.

O silêncio desvela o descaso,

a ausência disfarçada de compromisso que 

inunda o coração com uma alegria impessoal,

um sentir descartável, feito um trapo

no fundo de uma gaveta qualquer. 

Você realmente esteve aqui, dentro,

em algum momento? Não sei.

Você caminha em círculos e ainda assim se perde.

Senti saudade, senti falta. Só não senti medo.

Talvez, numa hora ou outra, 

eu tenha sentido um vazio porque

eu fiz muita falta para mim mesma.

Nesse descompasso por onde me guiou,

eu estive longe demais para 

perceber que não haveria nós - 

eu dancei a sós  essa canção que 

cantava uma história 

mal contada, inacabada.

De você restou apenas os cacos

de um coração despedaçado,

onde um dia coube o que eu quis que fosse amor.

Não tem amor sem entrega, 

sem partilha, sem escuta

sem lugar para dois.

Embarco num mundo que eu possa fazer parte

e expanda meu universo particular.

Me recuso a viver um afeto líquido que, 

feito a água de um rio,

contorna as pedras no caminho. 

Porém, pelo medo de desaguar no mar, 

prefere se afogar. 

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