segunda-feira, 23 de junho de 2014

Voz.

Não sou de fazer cerimônia.
Se tenho algo a dizer, digo. E pronto.
O problema é que a maioria dos ouvidos
são apurados para ouvir apenas o que querem.
Temem o desagrado, o feio, o profano.
Desejam evitar a todo custo aquilo que, lá no fundo,
já ecoa dentro de si, mas que insistentemente
teimam em conceder algum crédito.
Temem se enganar.
Mas já o fazem ao ignorar a si mesmo, a sua própria voz.

Minha palavra vem de dentro. Não dos dicionários.
Vem do corpo, das entranhas mais abissais.
Vem do caos interior que admito alimentar
as configurações inconstantes que dou à vida.
Não sofro de vertigem existencial.
Meus labirintos funcionam muito bem.
Ouço cada (im)pulso sussurrar
oscilações de sentimentos e formas,
sem ocupar-se somente com o agradável.
Evito dicotomias lancinantes.

Talvez eu meça palavras,
o que não significa que eu busque adequação.
Viver é essencialmente admitir a incongruência.
Sentir o sem sentido e o mal-dito,
enxergar além de uma palavra de desafeto.
Quero dizer a discordância,
desfazer tratados de paz.
Só assim posso mudar de pele, de nome,
trocar a senha, virar a página.
E começar de novo.



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