terça-feira, 24 de junho de 2014

Momento Greta Garbo


(Fonte: google imagens)

Eu quis aprender a ser minha própria companhia. Aprendi muito cedo a fazer de mim uma experiência antropológica-fisiológica, porém, tive dificuldades típicas de iniciantes. Chorei duas décadas consecutivas, senti meu corpo latejar, como se desintegrasse pouco a pouco, dando lugar a novas formas. Mas em meados de meu trigésimo terceiro aniversário, espantosamente eu me abracei e me acalmei. Num só impulso eu me acalentei. 

Ali, sentada sobre a cama desarrumada, percebi que tudo que um dia pensei em conquistar mundo afora, estava depositado bem aqui dentro. Há um universo incomensurável dentro de nós, rico em possibilidades infinitas de vida, as quais resistimos reconhecer porque exige um trabalho doloroso. Acho isso curioso: tanta  gente se dispõe a experimentar o sofrimento pelo outro, quando se aventuram nas mais diversas formas de relacionamentos, mas resistem a sofrer por si mesmo, por aquilo que está relacionado à construção de uma relação afetiva consigo mesmo. Amar o próximo nunca foi tão mais fácil que amar a si mesmo, porque para lidar com o "si mesmo" é necessário se buscar como um projeto dentro de si. Um projeto o qual é inacabado, como um quebra cabeça de mil peças sempre a completar. 

Sinto amor, tenho felicidade e alegria porque sou eu que me conquistei. Não sou realizável apenas com o "próximo"; porque hoje, no tempo presente em que a minha vida se desarrola, sou eu o meu parceiro. A primeira boa companhia, antes de mais nada, é aprender a lidar consigo mesmo. A se perceber, a se notar, a enxergar em si a beleza e o amor.

Não desfaço da importância de outras parcerias, só não projeto a ideia de realização ou felicidade na necessidade de haver um outro para confirmá-la. É preciso aprender a estar só, não viver na quimera de uma relação futura como única forma de vida possível. Estar só é possível e realizável. E assim como relações não são definitivas, a ausência de uma companhia também não. 

Vejo tanta gente sofrendo por sentir uma solidão avassaladora dentro de si, por sentir-se devorado pela ausência de alguém, e perdem tanto tempo se projetando para esse alguém que não notam o quanto estão longe de si mesmos... Percebe? Estar só não é o mesmo que ser solitário. Vejo uma oportunidade. É um momento de integração de si consigo mesmo. Saber traçar os próprios caminhos sem a dependência afetiva,
admitindo que há várias perspectivas em jogo, tudo pode mudar de uma hora para outra - nada é definitivo.

Não quero morrer pensando no que eu não fiz ou não tive. Quero viver o que for possível viver. Amar o que for possível amar - seja a mim mesma, o outro, ou ambos. Abrir novos caminhos quando for possível fazê-lo. Só não desejo dar concessão à amargura, por sofrer da falta, ver somente a dor e os fracassos, ou a ausência. Nem irei me submeter a qualquer forma de amor apenas por pura adequação, para satisfazer expectativas alheias. Quero viver, antes de tudo, essa beleza que já habita dentro de mim. E depois... Sabe-se lá o que pode vir a ser.



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