terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Carnaval



De tanto falar em não se perder,
adentrou na multidão, sozinha,
surrupiando calor humano alheio.
Segurou a corda com força,
seguindo o bloco cidade afora.
Cantou e dançou sem compromisso com o tempo:
sem intenção alguma,
(ela já costuma não ter intenções)
ainda foi fetiche para quem só aprecia máscaras.
Eles veem um par de jade em sua face maquiada;
um corpo vestido de carne.
Foi a pessoa amada para o delírio platônico
do carnaval de alguém.
São três dias em que se festeja o amor  -
como vertigem dos demais 362.

Pés calejados pela folia,
coração leve depois de tanta energia.
No carnaval nos perdemos e
nos encontramos.
Entre um bloco e outro
fica um pedaço de si,
dando licença para outra fantasia.

Ali, sentada na praça depois do baile de carnaval,
ela enxerga apenas um rosto
dentre tantos outros que são puro festim.
É quarta feira de cinzas.
Sem máscara,
o que a vida exige é coragem
 - palpite de um sertanejo ensimesmado -
para percorrer a aridez dos dias
em que o tempo é presente.

AML



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