sábado, 27 de agosto de 2011

Outro e o mesmo (?!)

"A pergunta quem sou? é nova toda vez que a formulo, e a decisão de partir da sua resposta é sempre penosa e radical, ao ser tomada. Formularei, pois a pergunta quem sou? como se fosse pela primeira vez, para (quiçá?) poder decidir-me." Vilém Flusser.

Toda grande mudança abre alas para o vazio de si. Um avassalador vazio, incongruente, por vezes cruel. Mas, ao mesmo tempo, é uma sensação que alegra: todo sentir vazio prenuncia novidade. E tudo que é novo não é tão, mas tão gostoso?

É preciso coragem, meu bem. Por que o vazio deixado pelo que passou pode devorar as entranhas e curá-las para devorá-las novamente, dia após dia: há um preço pelo desejo de nomear o vazio, de vazio. Se deixar, o vazio se transforma em buraco negro, que tudo engole, que inveja o que é vida e se preenche apenas de morte. O "autêntico" (?!) vazio quer compania: quer sentir-se cheio, quase explodindo. Veja bem: explodir é excesso - embriaguez de vazio que se esvaziou demais, ou se preencheu demais, ficou escuro de cores para ver os limites. E tudo se mistura, água quer ser óleo, sujeito quer ser verbo no pretérito perfeito do subjuntivo. Sujeito sem adjetivo, por que vazio. Mas, ao mesmo tempo, completo. De que? 

Gasolina. 

É preciso ousadia, meu bem, para não explodir. Nesses momentos, a solidão é solidária. Ventura para experientes, não para iniciantes, que fazem do vazio, o Nada. É para amantes da vida que medem a força, a sensibilidade e inteligência pela vontade de lutar e não pela retórica e persuasão que só faz sentido em dicionários. Retórica é para velhos rabugentos e vaidosos, que fogem da solidão, que preenchem o vazio com novidades infantes e populares: promessa de felicidade inócua, cuja duração é de festim. Não constroi, não cuida, não (re)cativa. O venturoso não vê a solidão como castigo. É um plus presentificador que o seduz, que o impele a querer mais, querer calibrar o vazio com o amor inebriante e desconhecido... Sim, querido! A solidão inova, reforma a casa para receber outro de si!! Outro de amor!! Outra forma ficcional de vida!! 

A solidão-solidária é terapêutica. Permite que cada um encontre outro lugar pra ficar, pra ser seu. Admite outros nomes para o seu lar. Quer aprender outra forma de vida possível, outra pintura de si, nova perspectiva que não ambiciona ponto de fuga; atividade de artista que joga com a desmedida e não se perde: se encanta, se enamora, porque goza de uma vida que se afirma por ser vida, por ser esta vida e não outra. O venturoso não finge. Não foge. Não lamenta a solidão, nem o vazio - respira fundo, aperta até o final o tubo de tinta e... cria.

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