segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Intensidade

Sentir cada centímetro cúbico de toda dor e toda alegria com humor inocente. Feito criança com chiclete na boca, que se lambuza ao fazer bola.

Sinceridade que dói e alivia:
É pura de valor, convenções, conceitos. O sentir não deve ser interditado pelo silêncio quando há tanta incoerência dentro das palavras. Linguagem que luta pra sair da garrafa, jogo de signos que dinamiza a alegria de viver, mesmo quando a circunstância espanta o coração, torna o ar mais rarefeito e faz corpo pesar.

Sendo sincero, a vida ganha leveza... É jogar limpo consigo mesmo, sem usar a trapaça como proteção contra a dor que o sincero aparenta querer causar. Veja bem: não se trata de imposição de opiniões, tampouco revela um desejo aristocrático de afirmar-se a todo custo. É mais, muito mais que simplesmente "causar" desconforto - ele já está alojado antes da pronúncia do primeiro verbo direto-indireto. Trata-se da finalização digestiva para continuar a alimentar-se de possíveis.

Não é a sinceridade que é rude. Não se leve, caro leitor, pela opinião dos hipócritas. A rudeza está em confundir inocência com ingenuidade; em banalizar o coração do outro só porque não vem acompanhado de bola de cristal. É rude quando o não dito parece que foi dito - tudo se resolve no intervalo da autoridade polarizada do discurso: palavra que se torna monólogo, fonemas que trombam com imagens no espelho, mas que ecoam no semblante de quem não as replicou. Calou-se. Silêncio que absolutiza apenas incógnitas. Aí a palavra torna-se coisa mal feita, porque é uma oportunidade que desoportuniza - vale só para um.

Sinceridade sensibiliza a vida para a alegria, para a plasticidade do moldar-se constantemente. Somos feito de terra, mas não somos máteria prima queimada no forno... Somos humanos expostos à adversidade do tempo natural. Humanos que se tornam cacos, caricaturas de si quando somente são respeitados como artefatos para bajulação e paliativos de um entretenimento vil, de um conhecimento para colecionadores de paixões sem sentido (sensível, porém, embriagado de silêncio)...

Rir de si: sim, alegria que acha graça em desenganos. É querer amanhã, montar quebra cabeça que sempre falta a última peça. E o que colocar no lugar do espaço vazio? Nada. Deixar à revelia do tempo? Não. Basta simplesmente deixa-lo assim, aberto para tudo o que puder se encaixar...

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