sábado, 2 de março de 2013

Fala

Não temo a dor que posso sentir
ao abrir-me para outra estória.
Como um livro que não julgo pela capa,
folheio, leio a introdução, o primeiro capítulo.
Abro na metade para sentir o odor da linguagem e
permito que me ofereça mais que meias palavras.
Quero criar outra vida.
Recomeço do capítulo zero:
hoje será ontem amanhã.
E mergulho. De novo.
Num jogo de sedução infindável: quero tudo viver.
Ter sensações adversas também é sinal de que estou viva,
que posso amar cada vírgula fora do lugar
e estranhar quando os tempos verbais estão
corretos demais.
Eu deixo cada emoção me lavar,
me digerir e me devolver nova.
Não refreio a dor,
deixo ela romper minha própria fronteira.
Amar exige um alargamento do mundo.
A linguagem deixa de dizer infinitos
quando a dor se esconde debaixo da mesa.
O Mu(n)do escapa quando o que vinga é o conceito.
Ser não é verbo auxiliar.
Sem  razão há mais poesia.
Não desobedeço minha intuição.

Sinto o coração bater em cada palavra rabiscada.
São encontros desinteressados que me atraem
à leitura do outro.

Minha letra tem vida própria.
Feito a carne nua e sem medo
de encontrar um verbo que cative
a mesma força gravitacional.
Eu te amo.

AML

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