sábado, 23 de março de 2013

Condicionais

Eu preciso dizer coisas inteiras.
Seja uma virtude ou defeito (meu),
não tenho outra alternativa
a não ser falar, entre vírgulas e travessões.
Este meu falar, na verdade, é um modo de silenciar.
Não tenho um ouvinte para me corresponder
ao atravessar por minha poética do não lugar.
Porém, insisto: o verbo grita por mim.
Estou com isso aqui, preso na minha garganta,
se manifestando em cada centímetro da minha pele
que repele, mesmo sem querer, a sua.
Eu queria estar na sua frente,
admirando esses olhos castanhos tão perdidos quanto
meus olhos verdes primavera.
Sim, uma condicional que não inflige condições:
eu apenas queria pegar-lhe pela mão,
e percorrer, juntos, o mesmo caminho escuro
que nos apavora. Um ponto de partida
sem relações de causa e efeito, sem finalidade.
Eu tenho medo. E quem não tem?
Mas não suporto guardar isso aqui dentro:
queria te amar, levar alegria para tua alma.
Queria abraçá-lo bem forte, até conseguir ouvir
seu coração pulsando dentro de mim.
Você já está dentro de mim, embora seu lugar
ainda esteja vazio.
Pareço uma louca por senti-lo aqui, tão perto,
sem ao menos ouvir sua voz.
Você desaparece apenas pela metade.
Eu esqueço seu nome pela metade.
Me doaria por inteiro para você,
se não temesse,
se não resistisse tanto em admitir
esse desejo latente, que salta dos teus olhos
quando sem querer cruzam com os meus.
Perdi o chão quando me vi aí dentro,
entranhada na sua carne, sem poder tocá-lo.
Sem poder dizer nada.
Em silêncio, inerte, respiração lenta.
Eu gostaria de dizer que...
sem condicionais.
Deal.

AML






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