quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Vídeo de artista

Falta tempo. Para muita coisa e para nada.

Permanecer em frente um vídeo por sete minutos parece ser uma eternidade para quem não se permite o exercício da contemplação. Sem legendas, sem apresentação; depende do seu olhar. É apenas um vídeo; um convite a se deparar aquém do cotidiano que rasteja hábitos preguiçosos.

Porém, o celular toca; dentro da galeria ninguém pode estar só. 
[Cadê o relatório? Confirmou a consulta com o oftalmologista? O horário de almoço não cabe um pastel com refri, o jeito é engolir vento. É preciso pagar a conta de luz, a fila da lotérica está enorme. Desmarcar o happy hour com os amigos. Talvez assistir uma comédia privada. Talvez viajar na próxima primavera.  Trocar o óleo do carro. Comprar o jantar de hoje, que não seja macarrão.] 

É pouco tempo, ele passa e ninguém percebe onde parou. O tempo devora seus filhos somente quando não deixam de espernear horrores em vez de apreciar a beleza de viver.

Pois sim, para contemplar a singeleza da vida, é preciso desprendimento: se desligar do tempo que consome dias desperdiçados com o medo de encontrar algo não planejado. Deixar de racionalizar um desejo latente, permitindo que ele não mais seja comparado à dor sentida anteriormente. Uma sensação  já conhecida para algo que não é como antes, que não traz os afetos de antes. É preciso que nos abandonemos dentro de si, por sete minutos, para encontrar algo mais que a carne dilacerada. Mergulhar mais na simplicidade de seguir minutos graciosos para não mais sucumbir à teimosia, à vontade de evitar uma promessa de felicidade como meio de se proteger do sofrimento. Profilaxia que adoece, medicamento venenoso que inflama feridas, esta mania de enxergar na tela apenas a memória que resgata desenhos desanimadores.    

São apenas sete minutos e... diferença.

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