terça-feira, 4 de outubro de 2011

Míopes e desregulados

Sim, eu me envolveria
com você.
Talvez até me casaria com ele ali.
Ou ainda, com aquele cara
que conheci no Réveillon passado.
Eu poderia me envolver ou me casar com qualquer um -
que gosta de criar jogos sobre o real
feito criança que se aventura
brinca de criar vida
muda as regras
troca o fim da piada por outro mais engraçado
E cria
amarte
tudo novo de novo...
num dia
e no outro.

Eu só não me casaria
com a pessoa certa.
Exceção de todas as exceções.
Isso é muito claro: sou míope
e agradeço aos céus por sê-lo e enxergar tão mau
Quem é míope sabe que
De longe, tudo se parece vultos: tem forma mas não tem face
algo a ser des-coberto,
que não quer
ou não pode
ser re-conhecido
É longe que a pessoa certa se encontra - eu não a vejo como é,
porque está além da tarefa de ser o que é
Apenas tenho uma ideia de como deve ser - sim, eu fantasio.
Ao me aproximar, me entristeço.
descubro que não passava de uma piadinha de minhas vistas embaçadas.
Acho engraçado.
Rio de tanto chorar!
Penso: "puxa, quase me enganei, essa foi boa"!
Não vejo nada de longe
acho isso fantástico
uma potencialização da vontade
da natureza ao meu favor.

Me casaria apenas com alguém que permanece aqui
 - na superfície
 - na terra
 - no conflito de amar o que ama.
Na retina desnivelada
desregulada
que mostra o mundo com imperfeição.

Na superfície, amamos por profundidade
A pessoa certa quer se instalar na verdade
do (des)encontro
Quer preencher o vazio
de ponta à cabeça:
como uma imagem formada ao contrário,
atrás do globo ocular.

Eu vejo mais do que supõe
o suficiente para dizer
Eu amo.
Eu te amo.

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