segunda-feira, 1 de maio de 2017

Paralelas



Da minha experiência com a morte
pensei herdar a força de dois titãs
acreditei que havia criado resistência
que eu conseguiria lidar melhor
com a brevidade da vida.
Eis que me vejo aqui, mais uma vez
com o coração dilacerado
pulsando uma vida vazia de sentido
que busca amor e por hora só encontra 
um vale de saudades do que já foi
do que não foi e do que não será (ou será?)
Devo suportar o dia
um de cada vez, como num jogo de xadrez
em que se escapa por um triz do cheque mate.
Sorte ou azar? Quem há de saber,
o que resta é o silêncio perverso
da sensibilidade que me habita
e por vezes parece decompor em minha pele
a crueldade de se apaixonar por tudo que
me inspira a existir nesse mundo tão patético.
Quero ser como Belchior
amar e mudar as coisas
Mas tem hora que a vida aperta demais
esse coração frágil e violentado constantemente
pelas dores das quais não é possível se livrar
pois faz parte de quem sou, assim, inteira.
Depois de tantos versos
que renegociam o lugar que essa dor pungente
deve habitar em minha memória,
as palavras irrompem a página em branco,
e feito água no deserto 
tenho a chance de me reinventar sempre que possível
Refaço-me, troco de pele, viro o disco 
volto a respirar tranquilamente
e paro de acordar no meio da noite
procurando absolutamente nada. 
O amor precisa ser um mantra diário
para que o infinito seja eu.

Para Belchior, o eterno poeta do meu coração selvagem. 


Fonte da imagem: http://www.xavierdevelopment.com/

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