segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Se a terra gira... e outra, e mais outra, vez..

... Porque simplesmente somos assombrados pelo agora, ficamos apavorados em tentar, já que é mais fácil simplesmente passar o resto do tempo que tiver se lamentando por não ter dito o que queria, não ter tocado a canção que queria ouvir, por não não ter dado mais demonstrações de afeto, de alegria, de acreditar; por não ter enxergado o que amava quando amava por puro medo de descobrir que não amava e queria muito mais... Não parece insano? 

Perdemos muito tempo treinando um discurso de despedida, ao invés de nos olharmos no espelho e voltarmos todas as questões que vemos no outro para nós mesmos. Claro, temos que postular culpados pelo que nós mesmos já "damos conta" de fazer por nós... Adotamos a "síndrome do Pequeno Príncipe": somos eternamente responsável pelo o que cativamos no outro, mas não queremos arcar com a responsabilidade do que cativamos em nós mesmos. Não, não se trata de introjetar a culpa que projetamos pra fora: não é questão de culpa, não é uma conscientização cristianizada do "pecado" em sermos livres e cheios de vontades libidinosas o suficiente para nos tornamos perversos, crueis, capachos do auto flagelo. Não, nada disso: é interpretar o que temos ou o que deixamos de ter ou experimentar a partir de um olhar voltado pra dentro, para o jogo que nós mesmo movimentamos as vezes contra, as vezes a favor de nós. 

Creio que o maior fracasso do homem hoje é o medo de tentar mais... Medo de descobrir que tudo é tão frágil, tão efêmero, se esvai como areia entre os dedos por tão pouco... Não, não temos o controle que pensamos ter sobre o tempo... é o paradigma do imprevisível que ignoramos fazer parte. Isso sim deveria nos mover a nos sensibilizar com coisas simples, pequenas, mas que potencializam a vontade de viver. Para ser feliz, não é necessário receber um convite. 

Vejo que a beleza que circunda este mundo ingênuo que habito preenche meus pulmões com um ar mais leve... com sabor de amanhã, de todo dia, de coisas novas e indecifravelmente deliciosas só porque são novas: porque coloco a alegria e felicidade de viver bem aqui, onde estou - parafraseando Vicente de Carvalho. Há tanta singeleza que deixamos passar... O mal estar, o desafeto, as frustrações turvam  nossos olhos para o que é mais encantador. São estes pequenos encantos que solidificam todos os dias os alicerces mais frágeis, porém, os mais indispensáveis: o amor, a alegria, o bom humor - bem estar consigo, que reflete o bem estar com e para o outro. Sim! Meu coração está espantado e pulsando uma força que não imaginava ter, uma vontade tão grande e indescritivelmente simples de criar a vida que quero fazer parte, entre pomos de ouro e de lata: tudo é dignificante e suficientemente valoroso para levantar os cantos da boca e gargalhar feito criança.

Por que trocamos isso pela cólera? 
Por que temos medo de sentir tamanha intensidade brotando aqui dentro, nos fazendo criar e criar jogos imprevisíveis?
Porque queremos saber onde estamos, quem somos, o que fazer amanhã? 
Porque queremos estilizar o devir criando uma rotina cronológica que faça algum pseudo sentido, para aquietar-se no cosmos, sendo que frequentemente nos encontramos no centro do caos. Sabe, a destruição e força embriagada não alcança o centro dos furacões. Ali, vendo tudo girar e girar e se dissolver em nada, é uma zona de conforto que garante uma sobrevivência piedosa, sem lutar pela vida, simplesmente esperando a poeira baixar para recomeçar. 

Porém, a vida pede muito mais para se afirmar. Está na fronteira de um tempo não linear, mas tempo. Onde a vida é tangível, há tempo. Não se trata de limite, apenas tempo que pode ser tudo e que volta a ser tudo ou nada se não sairmos do epicentro para olhar e transfigurar a vida em beleza... A possibilidade de criar me revigora a todo instante, pois tudo pode ser novo se eu não me fechar para a ampliação do olhar de dentro... para fora...

Sou um possível. Uma canção em silêncio que perpetua a magnitude de um viver afirmativamente que pode brotar nos ouvidos apenas de quem consegue ouvir versos dissonantes, que engendram um desconforto e tão logo um prazer inebriante, pois sem perhaps

De passagem por aqui:

"Só leve a esperança em toda a vida
Disfarço a pena de viver, mais nada,
Nem é mais a existência, resumida, 
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida
É uma hora feliz, sempre adiada
é que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arrodeada de dourados pomos.

Existe sim: mas nós não a alcançamos,
Porque está sempre onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos."

(Vicente de Carvalho - Velho tema)

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