sábado, 2 de julho de 2011

Solvente de tinta, solvente de amor em tela.

(Gustav Klimt - Detalhe da pintura O Beijo. 1937)

Uma cria-atividade pode elaborar em cores e formas a tristeza avassaladora, transformando-a em aparência de beleza. Não se trata de um exercício paliativo em digerir a rudeza e insignificância que substituíram a boa contemplação do que passou; antes, é apenas uma forma de lidar com o que é agradável, sem ocultar o grotesco que rumina dor.

Não há retorno para mundos e fantasias já desfeitas, mas ainda permanecem vivos como um quadro pintado na memória - embora também possa ser pendurado na galeria do esquecimento. E o que leva, caro leitor, um amor  tão grande se tornar mais abstrato do que é? O que leva, caro leitor, ao desejo intencional de se desfazer de uma obra tão significativa e, agora, empobrecida pelo desvalor do que passou a representar? Eu não sei. Mas sinto em tons de cinza e gelo o que antes pulsava vermelho nas veias...

Proclamar o sofrimento em cores e poesia garantem uma economia emocional capaz de não radicalizar o desejo pelo amor em fluxo num silêncio absoluto e corrosivo. É uma garantia provisória que permite um caminhar por uma ponte acima do abismo ao qual nos lançamos a todo momento, mesmo querendo ficar à sua margem. Deveras, um recurso eficiente quando o artista desencantado não desanima em pintar outras cores, novas perspectivas em telas possíveis: o que permite um suspiro de alívio quando imerso na cólera...

A cria-ação.
Graça humana que volta o olhar para o fluxo da vida, em continuidade, possibilidade e recomeço.

 



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